Um Pouco de Esperança...
      
     Dia destes, muito saudosista, lembrei-me de um texto que escrevi há uns 15 anos sobre esperança! Tentei buscá-lo primeiro na memória e depois nas gavetas empoeiradas do meu quarto, mas não encontrei nada além de fragmentos! Tal qual um mosaico, à medida que eu afastava os olhos das lembranças daquele texto, uma figura nova se desenhava à minha frente, mostrando-me novas perspectivas. Afinal, o que é esperança além do conforto que todos nós precisamos de que as coisas finalmente se encaixarão e darão certo?

     Foi então que me lembrei de uma palestra no início de 2011 com o Educador Rubem Alves, cuja figura, altiva e imponente, embora já bem desgastada pelos anos, me passava serenidade e um entendimento de mundo como ninguém. Seu semblante leve anunciava uma vida de virtudes, glórias, entendimento de mundo e quase nada do que se arrepender.

     Uma das coisas que mais me chamou atenção foi quando ele afirmou que os anos que chegam, acabam com nosso corpo, mas fortalecem nosso espírito com a segurança da liberdade! Sim, a liberdade para falar sem se preocupar se as outras pessoas gostaram ou não! A liberdade de dizer o que se pensa, não se importando se vai ser duro ou doce demais!

     Ora, essa liberdade espiritual simboliza a verdadeira esperança: A esperança de podermos finalmente andar sobre a relva molhada sem medo de uma gripe! A esperança de podermos sorrir para as pessoas sem que sejamos mal interpretados! A esperança de que nossos gestos mais ousados não nos desqualifiquem perante as Leis do Universo! A esperança de que cada um possa ver no outro um pedaço de si, uma extensão, uma ligação encantada que não se quebra de forma alguma! Enfim, a esperança de conquistar a tão almejada liberdade espiritual!

     E neste entendimento maior, quando atingimos o que parece ser o ápice dessa compreensão, nos deparamos com novos paradigmas, novos desafios, que nos levam a acreditar no verdadeiro propósito de tudo o que acontece em nossas vidas: redenção!

     Redenção significa libertar-se pagando um preço. Preço este que muitas vezes não nos sentimos preparados para pagar por ainda estarmos muito apegados, muito voltados para nossas querências e não nossas necessidades. O que queremos para nossa vida nem sempre é o que realmente necessitamos, e isso nos endurece pela angústia de não possuir.

     Talvez, hoje seja o nosso dia! O dia de desvestir-se de velhas coisas que não nos servem mais e realmente iniciarmos uma nova jornada de conhecimento e superação! O dia de entender que nossa vida representa muito mais do que conhecemos e sentimos! O dia de perceber que a esperança não é um bar, pois não deve nunca se fechar!

     Enfim, apesar de todo o meu ceticismo, parafraseando Shakespeare, não posso deixar de dizer que minha esperança maior é de que se descubra, um dia, que “existem mais coisas entre o Céu e Terra do que supõe a nossa vã filosofia”.