Companheiro Inseparável de Jornada

Desde que me entendo por gente, ele me acompanha como um cão fiel. Pulsar é seu destino e vocação. Já o senti apertado, quase a implodir. Já deu pulos, querendo saltar do peito. Muitas vezes testemunhou calado e cuidadoso minhas angústias. Em meus sobressaltos, pulsou desesperadamente. Jamais se dá ao descanso porque conhece seu destino e sua responsabilidade. É como um comandante do navio, será o último a abandonar o barco. Enquanto durmo, mantém sua metódica e calma rotina pulsante. Quase se explodiu quando me apaixonei, perdendo temporariamente seu próprio ritmo. E percebeu que aquela sensação era nova e alucinante como uma droga benfazeja. E achou que valia repetir a experiência. Quando não contive minha ansiedade, teve que conter-se para não sair-me pela boca. Se estou feliz, ele navega no azul sem ondas em céu de brigadeiro e torce com todo coração para que as nuvens negras fiquem fora do horizonte, pois é um zelador dedicado dos meus sentimentos e da minha alma. Não acredita em irmão gêmeo, porque sabe que é único e terá que enfrentar seu destino solitário com dedicação e coragem, embora em situações excepcionais possa até ser substituído. Meus temores tenta esconder, como quem guarda um segredo. Torce secretamente por mim, para que eu encare meus medos e encontre a paz. Não é mais nenhum garotão a exibir proezas juvenis. Viveu o tempo da empolgação, do jogar-se sem medo nos destemperos da vida, insensato, saltitante e leviano, como se não houvesse amanhã. O tempo passou, perdeu seu vigor, mas não perdeu a perseverança. Quer ir até o final, quer prolongar a caminhada e seu fim. É um companheiro inseparável nessa jornada. Estamos umbilicalmente ligados. Esperamos que nada nos separe, só a morte, que trará enfim seu descanso.

Domingos Sávio ferreira
Enviado por Domingos Sávio ferreira em 07/01/2017
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