Musicas de Ontem e de Sempre

Os meus amigos que vierem a ler esta crônica poderão dizer que eu sou um saudosista. E não estarão enganados. Mas eu aprecio a boa musica de todos os tempos, basta ser boa. Mas sejamos honestos: Há quanto tempo não aparece uma música que nos encante, como foram “Disparada”, “Construção”.

Porém hoje, falarei sobre algumas músicas que os tocam mais de perto, como foi “Velho Realejo”, de autoria de Custódio Mesquita e Sadi Cabral. Parece que esses autores vieram até a minha Rua Carlos de Campos buscar inspiração para compor essa valsa. A música começa assim:

“Naquele bairro afastado, onde em criança vivi....passava todas as tardes, um realejo a tocar...” e é a pura verdade. Lembro-me, com 6 anos, na minha rua passava um espanhol, ou cigano, com um realejo a tocar. Todas as tardinhas, e era mês de frio, e eu ficava ouvindo a sua música até que ele sumisse no final da rua. E a letra ainda diz; “...depois, tu partiste, ficou triste a rua deserta,...na tarde fria e calma, ouço ainda o realejo a tocar..”

Às vezes, quando me lembro dessa época, sinto saudades daquele tempo, que na música ficou registrada como “...ficou a saudade, comigo a morar, tu cantas alegre e o realejo parece que toca com pena de mim..”

Parece que todas as vezes em que ouço essa música eu retorno aos meus 6 anos, em 1940. Agradeço ao Custódio Mesquita e ao Sadi Cabral por essa composição tão perfeita, pois quantos como eu não ouviram um realejo em criança nas ruas e hoje é só saudade?

Outra música que me fala ao coração é “Deusa da Minha Rua”, de autoria de Newton Teixeira e Jorge Faraj.

Eu, quando adolescente, junto com um amigo, o Augusto Costa, cantávamos em dueto muitas valsas. E mesmo adulto, já como foguista da Cia Mogiana de Estradas de Ferro, junto com outro foguista, o Ari, no serviço quando escalado para cuidar de umas 10 locomotivas, para mantê-las com vapor, para as viagens programadas, ainda nos sobrava tempo para cantar muitas musicas, e então “Deusa da Minha Rua” era uma delas.

Depois de ter muitos namorinhos curtos, tanto em Campinas quanto em Valinhos, eu, um dia, botei os olhos numa moça da minha rua e vi que meu coração bateu mais forte e disse comigo mesmo: “Talvez ela não me olhe com a mesma emoção “.

Então percebi que a Deusa da Minha Rua era ela, e a música falava tudo o que eu sentia, que é assim:

“...A Deusa da Minha Rua / tem os olhos onde a lua / costuma se embriagar / nos teus olhos eu suponho / Que o sol, num dourado sonho / Vai claridade buscar / minha Rua é sem graça / mas quando por ela passa / seu vulto que me seduz / A ruazinha modesta / É uma paisagem de festa / é uma cascata de luz /...

E para concluir que a minha deusa era tudo isso e muito mais, eu e a Lucy nos casamos em 29 de maio de 1959, e eu fui descobrindo que eu tinha de ser muito bom para merecer aquela deusa, que tinha todas as qualidades de uma mulher perfeita. Era de uma humildade que só existe nas criaturas elevadas. E eu que nunca tive qualquer vício, só tive a aprender ao seu lado, com muito amor e caridade.

Não tínhamos saudades de tempos felizes, porque eles nunca foram interrompidos. Depois meu filho Luciano veio se juntar a nós, para completar nossa felicidade.

E para cientificar que eu não estou dizendo coisas sem comprovação, logo que nos casamos fomos a uma loja de departamentos, em Campinas. Por um momento nos separamos, escolhendo algumas coisas. Foi quando a Luiza, a Carmem e a Cecília me cercaram e me disseram:

”...Laércio, você foi desleal conosco..”

E eu perguntei por que?

Então elas, que haviam sido minhas namoradas em Valinhos, sempre em público e com muito respeito, me disseram:

“...Ao conversar com sua esposa vimos que ela parece uma deusa. Nós nunca poderíamos concorrer com ela. Essa mulher não é deste mundo. Você a merece, Laércio. Sempre foi muito honesto conosco, que também já estamos casadas..”

Então, ao nos separarmos elas ainda me disseram:

“..Dê um grande beijo na sua deusa..”

O tempo foi passando e o nosso amor só aumentando. Um dia Deus a chamou para junto Dele e eu entendi que Ele apenas havia me emprestado uma Deusa do Seu reino por quase 40 anos. E agradeci aos céus por tudo o que nós tivemos de amor e felicidades. Mas ficou o Luciano que é uma parte importante dela.

Fim

Laércio
Enviado por Laércio em 05/01/2017
Reeditado em 05/01/2017
Código do texto: T5873299
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