Poucas palavras

Ele criava seus filhos em silêncio, com poucas palavras. Imperavam os gestos. A expressão do rosto, o movimento das mãos, uma tosse oportuna ou um sorriso leve, tudo era meticulosamente observado por seus pequenos, que amavam essa mímica cheia de significados. Sua prole, assim condicionada pelo jeito do pai, seguiu na vida sabendo ouvir e ver o que importava, traduzindo as entre linhas das pessoas com a nitidez de uma lupa. Poucas sobreviviam ao rastreio de seus olhos. Se afastavam, sentindo-se invadidas. Talvez por isso mesmo seus filhos preferissem passar mais tempo sós, amando apenas aqueles poucos que a vida lhes deu o prazer de conhecer. Aqueles não perfeitos, nem plenamente virtuosos, mas com defeitos confessáveis, saudáveis e comuns aos bons.

GripenNG
Enviado por GripenNG em 22/12/2016
Reeditado em 26/02/2021
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