Passarinhos de Natal

A enxurrada das más notícias que inundam nosso noticiário foi interrompida por uma bela e emocionante reportagem. Uma senhora relatava que ao montar sua árvore de natal foi surpreendida por um visitante inusitado. Um tico-tico invadiu sua sala e construiu seu ninho na árvore de natal da família. A pequena ave destemida ia realizando seu trabalho ao mesmo tempo em que a mulher ia montando os adornos na árvore. Diante da câmera, a pequena posseira já alimentava seus filhotes, alheia a toda emoção que provocava nos moradores daquela casa.

É curioso observar o crescimento do número de passarinhos nas cidades de hoje. Certamente essas aves não migraram para o meio urbano para agradar nossos ouvidos citadinos com seus gorjeios e trinados. Por trás desse fenômeno há uma triste constatação. Essas aves estão perdendo seu habitat natural. Expulsas das matas e do campo, migram para o meio urbano em busca de alimento. É puro instinto de sobrevivência. Fenômeno idêntico aparece em reportagens na TV, mostrando em outros países ursos e outros animais selvagens invadindo algumas cidades em busca de comida. Por outro lado, nas nossas cidades essas aves não se sentem ameaçadas, como ocorria no passado, cassadas sem dó pelos garotos armados de estilingues. Esse é um trunfo da consciência ecológica paulatinamente infundida nas novas gerações. Nenhuma criança de hoje atira pedras nos pássaros. Hoje, abrimos a janela de nosso apartamento e ouvimos a ruidosa algazarra de pássaros nas árvores das redondezas. Sabiás, bem-te-vis, joões-de-barro, periquitos e outras espécies que nem sabemos identificar. Uma festa. Será que nós, seres urbanos, estamos merecendo essa pequena recompensa proporcionada pela mãe natureza? Ou será que esses trinados são apenas um grito de socorro da natureza nos alertando para a necessidade de uma convivência mais respeitosa do homem com seu mundo?

O pequeno tico-tico, já imortalizado no cancioneiro popular, deu o primeiro passo. Num momento em que comemoramos um nascimento tão importante para os cristãos e para a humanidade, essa avezinha atrevida decidiu compartilhar com os humanos o nascimento de seus filhotes. Belo acontecimento natalino capaz de injetar em nós um pouco de alegria e otimismo e de nos fazer esquecer, nem que seja em nome de uma trégua de natal, os eventos tão tristes que ocupam nosso noticiário.

Domingos Sávio ferreira
Enviado por Domingos Sávio ferreira em 19/12/2016
Reeditado em 19/12/2016
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