Norma
O nome dela é Norma. Já passou dos sessenta. É esposa, mãe e vó. O mundo cai sobre ela e é crente em Jesus. Presbiteriana. Calvinista não praticante. Cuida das contas de casa e de uma pequena lojinha. Cuida do marido doente, da filha doente e de uma filha com saúde. Cuida também dos filhos da filha com saúde, dá almoço para o genro, o marido da filha com saúde. Dá aula na Escola Bíblica de sua igreja, lidera um grupo de senhoras acomodadas. Mantém a casa e a igreja. A casa desarrumada porque já está cansada e aquela perna que não desincha. O templo está bem-arrumado para o pastor ficar feliz e orgulhoso de suas ovelhas. Todo lobo precisa de boas ovelhas, ovelhas saudáveis. Ela gosta de ser elogiada, talvez o único carinho que ela cultiva.
Norma passa por mim mancando da perna inchada e enfaixada. Ela me olha com um olhar pesado e cansado. Sinto pena, mas minha compaixão não lhe interessa. Ela me cumprimenta e segue o seu dia a dia. Cada dia de Norma é um calvário. Sua risada é insana, é odiosa. Sua voz cansa quem ouve. Seus lamentos provocam ódio em quem os ouve. Sua catarse é cantar os hinos com sua voz desafinada e horrenda.
Viver próximo de Norma é ter os sentimentos confusos. Sinto compaixão e ódio. Depois de um bom tempo de convivência fica a indiferença. Parece que ela tem prazer em sofrer, em se lamentar. Ela é daquelas fiéis que gostam de se encontrar em todas as passagens bíblicas e sentir um certo orgulho por fazer parte da história em comum dos primeiros seguidores do Nazareno. Norma é dissimulada. Ela diz que a filha doente é seu espinho na carne e que cuidar de sua família toda é sua missão santa.
Agora a vejo pelas costas. Ela segue com seu andar manco, a faixa se desfazendo e escorrendo pela perna, se lamentando por dentro e por fora aquele sorriso cansado que implora por atenção dos outros. Norma é um mal para ela e quem está a sua volta. Daí sigo indiferente, pois se não fosse assim carregaria as cruzes que ela vem acumulando.
O nome dela é Norma. Já passou dos sessenta. É esposa, mãe e vó. O mundo cai sobre ela e é crente em Jesus. Presbiteriana. Calvinista não praticante. Cuida das contas de casa e de uma pequena lojinha. Cuida do marido doente, da filha doente e de uma filha com saúde. Cuida também dos filhos da filha com saúde, dá almoço para o genro, o marido da filha com saúde. Dá aula na Escola Bíblica de sua igreja, lidera um grupo de senhoras acomodadas. Mantém a casa e a igreja. A casa desarrumada porque já está cansada e aquela perna que não desincha. O templo está bem-arrumado para o pastor ficar feliz e orgulhoso de suas ovelhas. Todo lobo precisa de boas ovelhas, ovelhas saudáveis. Ela gosta de ser elogiada, talvez o único carinho que ela cultiva.
Norma passa por mim mancando da perna inchada e enfaixada. Ela me olha com um olhar pesado e cansado. Sinto pena, mas minha compaixão não lhe interessa. Ela me cumprimenta e segue o seu dia a dia. Cada dia de Norma é um calvário. Sua risada é insana, é odiosa. Sua voz cansa quem ouve. Seus lamentos provocam ódio em quem os ouve. Sua catarse é cantar os hinos com sua voz desafinada e horrenda.
Viver próximo de Norma é ter os sentimentos confusos. Sinto compaixão e ódio. Depois de um bom tempo de convivência fica a indiferença. Parece que ela tem prazer em sofrer, em se lamentar. Ela é daquelas fiéis que gostam de se encontrar em todas as passagens bíblicas e sentir um certo orgulho por fazer parte da história em comum dos primeiros seguidores do Nazareno. Norma é dissimulada. Ela diz que a filha doente é seu espinho na carne e que cuidar de sua família toda é sua missão santa.
Agora a vejo pelas costas. Ela segue com seu andar manco, a faixa se desfazendo e escorrendo pela perna, se lamentando por dentro e por fora aquele sorriso cansado que implora por atenção dos outros. Norma é um mal para ela e quem está a sua volta. Daí sigo indiferente, pois se não fosse assim carregaria as cruzes que ela vem acumulando.