Ravenala não questionou. Pode ser que com este landuá maior, Daniel pegue peixe grande. O menor se prestava apenas para captura de siri. Ela não podia ver os amarelos, vermelhos e descorados,  nem sentir o cheiro daquele crustáceo corredor.

— Siri deve ser parente de aranha, eca.
— Nem todo artrópode é um aracnídeo.
— Sinto falta de um dicionário aqui na ilha. Não confirmo nem nego a veracidade de sua informação sobre artrópodes aracnídeos. Fica mais difícil que traduzir o latim de meu avô, no meio da pastagem...
Arre!
— Olha que eu trouxe.
— Uma codorna?
— Codorna, codorniz ou perdiz. Não sei. Sei que eu trouxe nosso jantar.
— Como conseguiu capturá-la.
Não gostava da palavra matar.
— Ela estava presa na lama da lagoa.
— Estava morta? Eca!
— Está viva.
— Então solte-a. Não vou comer um bichinho tão bonito. — Pedrês... Pedrês... bonito...bonito...— disse sonolenta — Cadê as frutas?
— Esqueci-me de trazer.
Ravenala sentiu enjoos. Daniel ofereceu-lhe água de coco. Ela tomou, e dormiu.
Gravidez, enjoos — resmungou Daniel sem articular nenhuma palavra audível. E quando Ravenala acordou, a lua estava clara.
— Meu bem, venha ver! Cumpri minha promessa!
— Quando estiveres numa ilha, não prometas tudo. Não prometas nada que a ilha não possa oferecer.
— A lua! Prometi colocar a lua  debaixo de teus pés. E não conseguindo, ei-la sobre tua cabeça!
Daniel conseguiu arrancar um sorriso dos lábios de Ravenala. Contagiado pelo sorriso dela. Ele também sorriu.
***
Adalberto Lima - Fragmento de Estrada sem fim...
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