Papo na Parada
_Boa noite, seu moço, tem um cigarro?
_Boa noite. Infelizmente não tenho, não fumo.
_ Se o senhor não fuma, não poderia ter mesmo, não é?
_ É verdade. O infelizmente não foi no sentido de não ter o cigarro, porque o natural seria que não o tivesse mesmo, mas foi no sentido de lamentar não poder atender ao seu pedido, por não ter o cigarro.
_ Credo! Complicado, hein? O senhor nem me conhece, porque lamentaria não poder me oferecer um cigarro?
_Porque me agrada tratar as pessoas de maneira gentil.
_Mesmo as que nunca viu antes?
_Sim. Ser gentil com todas as pessoas deveria ser um propósito de todos. Se assim agissem as pessoas, o mundo seria muito melhor.
_Então o senhor acha que dar um cigarro a um estranho é ser gentil com ele, e com isso melhora as relações humanas?
_Não foi bem isso que quis dizer. É claro que dar cigarros às pessoas, estranhas ou não, por si só, não melhora o mundo.
_ Então o que melhora o mundo? Dar cigarros ou ser gentil?
_Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Você pode ser gentil sem dar cigarro algum, como pode não ser gentil dando um monte de cigarros . O importante é a forma de tratar as pessoas.
_ E o que o cigarro tem a ver com isso? Não ter o cigarro que lhe pedi mudaria a forma de o senhor me tratar?
_Não. É que o senhor poderia interpretar o fato de não atender a seu pedido como uma forma de não estar sendo gentil, afinal o senhor não me conhecia. E não poderia saber se eu tinha ou não cigarro e se supusesse que eu os tinha poderia também imaginar que os tivesse negando ao senhor, o que não seria nada gentil.
_Meu Deus! Só estava com vontade de dar uma tragadinha. Mas, já perdi. De que planeta o senhor veio? Não precisa responder. Meu ônibus está chegando, boa noite.