Quando te vi...

Na última vez que te vi, nós nem nos olhamos direito. Nos encontramos no meio da rua. Qualquer pessoa, se observasse bem, imaginaria que somos complemente desconhecidos. Mas, na verdade, nosso encontro nos deixou marcados para sempre. Sabe qual a sensação de que ninguém nesse mundo me conhece tanto quanto você? Cara, é sufocante. É uma droga ter tanta memória em comum com um estranho. É muito frustrante, é como se parte das melhores lembranças que tenho (invariavelmente, são com você) não passassem de pura imaginação. Ninguém nunca acredita no quanto funcionamos bem juntos. Talvez porque não éramos como os outros casais, não precisávamos provar nada a ninguém.

As pelúcias eu joguei fora, mas guardei os bilhetes. Rasguei as cartas, mas coleciono as coisas que você me disse. Picotei as fotografias, mas gravei as recordações. O amor morreu antes do último verso da última estrofe do nosso soneto. Suas promessas pairam sem sentido no meu travesseiro.

14 de julho de 20...

Eu quis voltar no tempo tantas vezes. Não no tempo em si, mas nessa data e fazer tudo diferente. Mudar o que eu disse, mudar o que fiz, te abraçar um pouco mais forte e não permitir tua partida, te beijar pela última vez, te dizer um eu te amo sussurrado, roubar aquela camisa legal que te deixa tão bonito ou te dar um soco bem dado no estômago. Só que aí eu pensei... Mesmo que eu conseguisse te conquistar novamente, a garota que me tornei não combina mais com você.

Eu mudei. Agora eu gosto de sair (apesar de ainda não me sentir desconfortável em meio a multidões). Gosto de juntar grana e viajar sem rumo certo, sozinha. Aprendi a cozinhar usando a internet. Acompanhei a novela e torci para a mocinha ficar com o mocinho, com a minha mãe. Pintei o cabelo e cortei o cabelo no ombro. Escuto Tiago Iorc e Sam Smith para me acalmar quando penso em sucumbir e aprendi a dirigir. Alimento um passarinho que fez ninho na minha janela. Comecei a beber e danço, mesmo sem saber muito bem, até o amanhecer. Não tenho mais vergonha de rir bem alto ou desabafar com os meus amigos.

Essa nova versão de mim é bem diferente da que você conheceu. Essa aqui você não ajudou a construir. Sou mais forte porque a vida ensina. Já quebrei muita a cara e aprendi que solidão não é estar sozinha no mundo, mas sim achar que a única companhia que vale a pena é a de alguém que se importa de verdade com a gente: nós mesmos.

Por isso, eu passei por ti e continuei o caminho em busca de mim e da minha felicidade. Te desejo felicidades, meu bem.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 13/12/2016
Reeditado em 17/12/2016
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