As  meninas do semáforo ainda não têm sequer seios formados,  e já estão expostas aos perigos da rua. Tornam-se vitimas de pedófilos e do infortúnio a que formam submetidas por aqueles que deveriam protegê-las.

 O sinal abriu.
Paulo Valença e Jeremias arrancam os veículos,  simultaneamente. Vanini acena. Ravenala fica triste. Aquela menina deve ser da sua idade. Talvez mais nova uns dois anos. Muitas crianças não estudam porque os mandarins guardam o dinheiro da Educação em seus bolsos rotos. Quebram limites e barreiras, vencem obstáculos, burlam a Lei, e com asas negras sobrevoam, impunes, o abismo de seus crimes. Mas  nada fica oculto aos olhos de Deus.
 
Se  detivesse poder,  Ravenala empunharia sua bandeira contra a corrupção. Faria os corruptos devolverem centavo por centavo, com juros e multa tudo que furtaram. Se assim não o for, remida a culpa, o ladrão continua devendo o dinheiro que subtraiu de suas vítimas, porque cadeia não paga dívida de dinheiro. Paga culpa. Por isso, em seu modo de julgar, ela entendia que não se devem prender, por muito tempo, os corruptos. Apenas o  necessário para repatriar os recursos financeiros que depositaram em paraísos fiscais.
 
Nada fica oculto aos olhos d e Deus. Todos os que dormem no pó, crentes ou ateus,  ressuscitarão; uns para a vida eterna, outros para vergonha e desprezo pelos séculos sem fim.’  E não dardará, aqueles que praticaram o mal, serão almas penadas vagando na sombra de seus crimes .
 
'A estrada dos malvados leva à morte’. Não há como fugir da justiça divina. Todos prestarão conta de suas obras e serão acusados pela própria consciência: 'Cadê o dinheiro dos impostos que não foram carreados para a Educação, Saúde e Segurança Pública?'
 
Os mandarins enchem seus bolsos de dinheiro extorquido dos mais fracos. ‘Atam fardos pesados e esmagadores e com eles sobrecarregam os ombros dos homens, mas não querem movê-los  sequer com o dedo. ’ Fecham a cortina do palácio, e se regalam com os impostos pagos por aqueles que ardem em chamas.
 
É inevitável que escândalos aconteçam, ‘mas ai do homem que os causa! Ai de quem fizer tropeçar um destes pequeninos. Melhor lhe seria amarrar uma pedra de moinho ao pescoço e se afogar nas profundezas do mar.’ De que vale o efêmero diante daquilo que é infinitamente duradouro  —  diz o Livro dos livros: ‘Todo tesouro acumulado na terra está sujeito à traça, à ferrugem ou à pilhagem de ladrões. ’  
 
As  meninas do semáforo estão entregues à própria sorte: sofrimento, dor e morte. Até quando, meu Deus! Até quando?...
 
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Texto: Adalberto Lima — Estrada sem fim...
Imagem: Internet.