Análise - Primeira impressão

"Não quero te encher com as minhas lamentações” - e foi assim que dei início a primeira consulta com a psicóloga. Ela riu. Na verdade, sorriu, meio que como me dando um apoio porém me repreendendo. Existe isso? Ok.

Falei de tudo um pouco, meio atropelado, quase rimado - como um texto que ensaiei por anos pra contar pra alguém, sem saber que dia esse dia chegaria. Falei da minha relação com os seres humanos, quanto humanos. Falei da morte da minha vó. Falei, falei, falei. Eu esperava o momento em que ela me pediria pra deitar no divã e iria pontuar minha fala, com os oclinhos no nariz, mas isso não aconteceu. Não anotou uma vírgula, não me deu uma solução. Mais uma frustração pra conta, pensei.

Sai da consulta querendo poder ter ficado mais, ter dado mais chances de que ela me conhecesse. Passei a semana tentando achar a justificativa mais aceita de eu ter procurado ajuda. Se eu já me via como sensível, os dias que precederam foram um mergulho sem volta numa Suelen de memória fraca porém tão enriquecida de detalhes obstinados. Não sou uma pessoa com tantos problemas, digamos. Não quero ter problemas, ninguém quer - essa deve ser a razão?

Suelen Lucena
Enviado por Suelen Lucena em 28/11/2016
Reeditado em 28/11/2016
Código do texto: T5837672
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