SAGRADAS ABOBRINHAS

E é assim mesmo, numa rodada de cerveja no boteco da esquina, numa roda de chimarrão ou num encontro casual no balcão do cafezinho. Governo? Uns contra, outros a favor. Mulheres? Na terceira idade a gente só relata as desventuras e ainda rimos. Somos velhos, já não conseguimos mentir sobre as supostas aventuras. Seria até conversa de pescador. E se tivermos, é um segredo só nosso. Estamos naquelas: ”Se melhorar estraga”. Já nem mentimos muito, entretanto nos empolgamos com o futebol. Ah o futebol! Somos técnicos experientes desde sempre. Cuidamos o horário, não queremos estresse em casa. Bebemos pouco, só para não perder o hábito. Quando as ninfetas passam, pensamos: Que saudades! A vida é assim, cada coisa no seu tempo. Já fomos jovens. O som do cavaco nos diverte na roda de samba e de repente nos arriscamos numa sambadinha discreta pra não chamar muito a atenção. O bom mesmo é ver a morena gingar ao som do tantã. Para tudo! Só admiração. Com cuidado, pois o malandro já está te olhando, será que está com medo de perdê-la pra um ancião? Vai saber. Na hora do malho no governo, só dizemos “hanrã”, é isso mesmo. Pra não perder o amigo. Na hora da defesa, concordamos. Em cima do muro, neste caso é saudável, pra que azedar a cerveja? Falamos da ladroeira dos políticos. Tem que botar no paredão e metralhar todos! São todos iguais a cachorro ovelheiro que morre com o focinho virado pras ovelhas. Eles não têm conserto mais! Sabe aquela loira do salão de beleza? É machorra! Ah não, tu é do tempo das machorras, dos tranviados, mas tu és velho hein! Hoje está tudo em paz, todos são livres, pra que o preconceito? Ah, mas espera aí, ela é um espetáculo de mulher! Ah, então pra ser lésbica tem que ser feia, agora tu vai me dizer que homem bonito é... Deixa pra lá, tu tá ultrapassado! Vamos tomar mais uma. Vamos falar de futebol. Deu, tô indo. Tô atrasado, a mulher já vai servir a janta.