Devaneios sobre a morte

Tenho andado um tanto reflexivo nesses dias. Parece eminente a necessidade de alcançar alguma coisa que ainda não consigo precisar ao certo. Faço muitas andanças pelas ruas. Ao contrário do que você pensava, não estou confinado em meu quarto contemplando o tempo que se vai... pelo menos a minha alma não está lá, ela vagueia muito longe em um espiral de luzes imperceptíveis descobrindo e compartilhando emoções por diversos amores. Amores perdidos, amores nunca apresentados que atingiram o meu peito sofrido em uma convulsão de sentimentos... tenho vários deles e de vez em quando me perco em seus devaneios, muito próprio, muito eu, um mundo onde caminho sozinho, meio indeciso do que decidir já que não sei para onde estou indo.

São várias as memórias e não tenho como te dizer como sobrevivo, apenas vivo e pertenço sendo conduzido por uma linha tênue passo em passo. De vez em quando sou jogado em um campo inexplorado, enorme, rodeado de dragões intimidadores que me encaram e apavoram diminuindo minha existência. Quem sou eu nesse mundo de feras? Talvez um João ninguém remexendo as latas de lixo da esquina do nada, buscando aquilo que chamam de afeto... é como me sinto nessas horas inglórias... bombardeado pelos medos, tentando conter ou impedir que o vazio em meu coração tome conta de todo o corpo de uma só vez. O que é? O que ele quer de mim? Nem meu espírito, nem a minha enfraquecida razão foram capazes de decifrá-lo.

Outras horas me ronovo quando sou jogado em uma esperança, meio esquisita, meio hipócrita, meio utópica. Até gosto desses dias... é como se estivesse num jardim amplo, repleto de árvores de manga, flores coloridas de quintal, um gramado fofo e verde escuro, vento um pouco mais forte que a brisa dos campos e uma chuva fina, quase não caindo de tão preguiçosa... me sinto bem assim, também com vontade de dormir, sorrindo e murmurando cânticos ou uma poesia. Quem sabe não abrirei meus olhos e chamarei aquelas tristes e frágeis crianças abraçando-as fraternalmente até nos desfazermos tornando-nos o ar... é ele a exata medida da perfeição. Dançando silencioso trazendo vida e limpando todo o peso negativo... depois se vai sem nenhuma palavra, deixando memórias e momentos, vivendo por viver e envolvendo amores sem ter posse de nada, sendo posse de ninguém, o ar é minha perfeição e alma gêmea.

Fico triste em saber que nem mesmo a perfeição está imune a corrupção do mundo... bem se sabe que toda perfeição só se concretiza quando deixa de ser e deixa ser parte do todo, é algo além dessa simples matéria, corpo magricela e face acnosa... é o tudo unindo-se ao nada em uma surpreendente viagem que só podemos precisar por teorias diversas, pregando ao novo Deus universo e suas energias, causas e efeitos, com um sorriso satisfeito de ter comungado um pouco com o divino. Na terra não há nada além que corrupção, ao menos nesse tempo... o ar pesado cinza não se sustenta em seus vôos e enlouquece pulmões da multidão, tormentos sofridos... como é triste a cidade.

Mas sou apenas um menino na lua, o filho do sol bailando no deserto... sou o ímpeto juvenil que corre desavisado sem dar muitas explicações, um aventureiro intenso demais para um corpo de menino. Um homem em plena harmonia com o cosmo... um cara meio louco, meio frustrado, meio melancólico... um choroso de lágrimas de fogo que sorri para as distantes galáxias, mas não tem nada a dizer para ninguém, um louco perdido respondendo a comandos... um ogro incapaz de despertar amor em alguém, só um, um indivíduo qualquer nesse planeta.

E as viajens do meu espírito carregam em seus ombros utopias e tristezas das multidões, tentando tornar minha matéria catarse da esperança. O meu corpo se intimida e acovarda as aventuras da alma se separando em seu próprio casulo, não permitindo a união total que me tornaria o sol desbravador que conhece todos os destinos e sorrisos, que se compartilha e se lança ao futuro.

Eu quero é ser um eterno jovem, consumir minha juventude e trilhar os muitos caminhos do amanhã. Pois quando a solidão me envelhecer, levar minha luz, a minha voz se estremecerá em uma imensurável dor... verei minhas mãos pouco a pouco enrugar, meus olhos serem consumidos pelo glaucoma e meu coração paralisar em estado de alerta constante. Uma lágrima escapará de meus olhos ao contemplar o horizonte envelhecido... relaxarei na cadeira de balanço pensativo e atônito, atento a morte que se espreita... a mente por todos os sonhos, a chave derramada na mesa, a porta da área escancarada mostrando um mundo escuro e vazio, monótono... choro novamente e tento me agarrar a qualquer lembrança para não ser o palhaço triste de meu drama... o universo é minha história e um dia eu vou... deixando no ar meu sorriso e a triste esperança bailando sem parar... serei a brisa da manhã balançando e carregando folhas de uma árvore, serei o vento que contemplo da janela de meu quarto, serei tudo que fui... crescer não dói.

Josué Viana
Enviado por Josué Viana em 15/11/2016
Reeditado em 15/11/2016
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