MARY A MERITOCRÁTICA

MARY A MERITOCRÁTICA

Olhos verdes contemplavam no espelho um rosto já expressando a chegada da velhice, emoldurado por, bem tratados, cabelos loiros. Mary tinha sido feliz: De uma família de posses, infância protegida, uma vida boa e normal; e na idade adulta, dois rendosos casamentos no currículo. Funcionária da receita federal, bom salário, graças a ajuda de seu pai que a manteve, sem precisar trabalhar, quatro anos na faculdade de economia e mais quatro em preparação para o concurso, no melhor e mais caro cursinho. Não tinha do que reclamar, mas seus olhos denunciavam certa melancolia.

Tony, sua nova aquisição, a tinha trocado por outra: Uma morena de 20, metade de sua idade.

Mas a vida precisava continuar; Na saída do prédio, não respondeu o bom dia do porteiro, seus pensamentos estavam longe; Criava agora um novo projeto: Ser famosa; Para isso estava indo à academia preparar o corpo para este momento. Nuvens negras no céu préanunciavam tempestades.

Em poucos metros, teve que parar, a rua estava tomada por estudantes que protestavam contra as PECs de Temer. Saindo do carro, Mary foi tomada por uma ira que ele nunca tinha sentido antes: Dirigiu-se à líder dos protestos, uma garota negra de uns 18-23 anos que reivindicava direitos. Mary grita enfurecida: Vagabundos, vão trabalhar se querem ter direitos, Eu sou funcionária federal graças aos meus esforços cheguei onde cheguei porque lutei, vocês querem que o governo dê tudo na mão? Vão buscar uma enxada ou uma trouxa de roupa, vagabundos! Sanguessugas!

Câmeras de celulares registravam a cena, a fama tinha chegado antes do que imaginava... Ela mereceu.

Singela homenagem à todos os que acreditam que se consegue alguma coisa na vida sozinho, sem ajuda de ninguém, aos que defendem a meritocracia.

Aos que acreditam que os impostos não devem retornar àqueles que pagam, em forma de serviços essenciais, como Cultura, Educação, Segurança, Saúde etc.

Ao valoroso senador Aécio Neves, símbolo maior da meritocracia, que, como todos sabemos, tudo que fez na vida foi somente pelo seu esforço e talentos naturais, sem ajuda de herança e dinheiro de família, sem verbas acusadas de desviadas, sem as facilidades que têm os que possuem muitos recursos,mas somente pelo seu valor pessoal.

À todos os que acreditam na mídia e nos contos da carochinha. Parabéns pela perpetuação da ingenuidade.

Ivan Rodrigues dos Santos

Ivan Yóv Rodrigues
Enviado por Ivan Yóv Rodrigues em 13/11/2016
Código do texto: T5822245
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.