Carmen

 
  • - Carmen! Carmen! Carmen!

  • - Carmen, por que aquele dia que te chamei você fingiu que não me ouviu?
    - Quando?
    - Ontem, no largo da Lapa.
    - Não passei, ontem, por lá. Tá doido?
    - Esquece.

  • - Oi.
    - Oi. Nos conhecemos?
    - Não, mas você sabe meu nome. Um dia passei por aqui e você me gritou, mas estava com pressa.
    - Carmen?
    - Sim.
    - Uma coincidência. Que coincidência! De longe você parecia com uma amiga do trabalho que se chama Carmen.
    - Nossa! Sério? E você a acha bonita?
    - Sim. Muito.
    - Sinto-me elogiada.
    - hahahaha
    - hahahaha
    - Quer dançar?
    - Não posso, tenho que ir para casa, minha esposa me espera, e…
    - Ah, vamos, é rápido, é ali na gafieira do beco.
    - No beco tem uma gafieira?
    - Sim, toda a Lapa é uma gafieira.
    - hahahaha
    - hahahaha
    - Que horas são?
    - Não importa, quando a gente dança o tempo para.

Começava a chuviscar. Mas chuvisco de primavera que ainda trazia resquício do gelo do outono. Carmen me puxava com força pela mão. Eu seguia-lhe. Pude reparar que era uma bela mulher. Morena jambo, cabelos encaracolados, bundinha empinada e belas pernas. Percebi que fui injusto com ela, pois era muito mais bonita que a Carmen do trabalho. Sua risada era gostosa e provocante. Já estava ansioso de chegar na gafieira e abraçar aquela bela mulher.
  • - Chegamos!
    - Nossa, uma gafieira bem aqui e não a conhecia.
    - Ela é nova, mas as pessoas são da antiga.
    - Sei, pode ser. Não vejo ninguém conhecido
    - É só a nata, Francisco.
    - Ei, como você sabe meu nome?
    - Sei lá, mais uma coincidência.
    - hahahaha
    - hahahaha

Realmente o tempo parou enquanto dançávamos. Sentia um prazer que jamais sentira antes, abraçado àquela bela morena e sentindo seu corpo jovem roçando no meu. Seus seios amassados em meu peito, suas coxas encaixadas às minhas, sua bunda rebolava indecentemente. Seus cabelos batiam em meu rosto, sentia o seu cheiro, não conseguia identificar a fragrância, mas era alucinógeno. A mulher toda cheirava a desejo. Só dei por mim quando estávamos colados dançando uma música lenta e a gafieira praticamente vazia. Ela parou, me olhou, beijou minha boca e disse:
  • - Tenho que ir.
    - Já?
    - Viu, não disse que o tempo pararia?
    - Sim. Você é um sonho?
    - hahahaha
    - hahahaha
    - Tchau, Francisco, a gente se vê.
    - Mas, espera…

Carmen saiu e tentei alcançá-la, mas era rápida. Sumiu. Voltei à gafieira e só vi alguns velhos bebendo numa mesa. Perguntei se ela já iria fechar. Disseram-me que a antiga gafieira já tinha fechado há anos e em seu lugar ficara esse bar.
  • - Você parece ser bem jovem para ter conhecido a gafieira.
    - Ei, filho, parece que viu fantasma!
    - hahahaha
    - Não, não foi um fantasma, mas uma deusa chamada Carmen.
Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 05/11/2016
Reeditado em 05/11/2016
Código do texto: T5813619
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