Os vivos não aprendem nem com os mortos.

Hoje foi o segundo dia da minha vida que usei para visitar um cemitério.

Que me desculpem os góticos ou as religiões que curtem fazer rituais lá dentro, mas eu não sou uma pessoa adepta ao local.

Ano passado, acompanhei minha mãe. Esse ano decidi ir sozinha. O motivo? Simples: olhar a movimentação nesse dia festivo para os que acreditam. O dia de finados.

Por escolha eu decidi ir a pé. Fui analisando os locais com calma. As Igrejas pareciam estar enterrando várias pessoas ao mesmo tempo, pois os fieis mantinham um silêncio fúnebre. Em algumas ruas antes dos cemitérios as pessoas já garantiam sua parte na festa: venda de flores, águas, bebidas, coroas e jarros. Outra parte, já nas portas, dedicando sua manhã à persuadir os outros a visitarem suas Igrejas.

Seja como for, a data é festiva sim. Sem aspas, sem ironias.

O dia de finados muito me lembra um aniversário.

As semelhanças são muitas: Acontece uma vez no ano e as pessoas levam presentes como uma forma de dizer "Lembrei de você nesta data". Mas ao invés de "Parabéns pra você", as pessoas rezam o terço. Após as orações elas se despedem e, muitas vezes, só lembram dos finados no ano seguinte, quando o calendário aponta o Dia Santo e o chefe diz: "Amanhã é feriado".

Em alguns túmulos, nem as flores secas e murchas das datas anteriores foram retiradas. Alguns estavam se amontoando.

Uns jazigos grandiosos, com quase uma árvore genealógica em placas de bronze ou alumínio e fotos como belos dizeres. Outros, identificados somente pelas famílias, pois a única referência é um número.

Andando por entre os túmulos, conversei com algumas pessoas e fiz algumas perguntas. Foi aí que encontrei o senhor que, nessa história, chamarei de José. Ele tinha aproximadamente 70 anos e olhava, sem dizer nenhuma palavra, para o túmulo de uma moça que, aqui, chamarei de Maria.

Observei, cheguei perto e comecei a puxar assunto. Seu José, um pouco reservado, falava pouco. Até que eu não me contentei e disse:"Essa moça faleceu em 1975. O senhor conhecia?".

Ele me respondeu com um tom de voz triste, porém conformado: "Sim. Maria foi minha noiva durante 2 anos. Adoeceu e, em menos de um mês faleceu. Os médicos nunca descobriram o que ela tinha. No dia em que ela morreu eu havia passado na loja de flores e comprado duas margaridas. Eu não tinha muito dinheiro, mas sabia que aquelas flores eram as favoritas dela. Quando cheguei em sua casa, Maria estava dando seus últimos suspiros e eu, desesperadamente, corri para seu lado e coloquei as margaridas em suas mãos. Ela soltou um suspiro e falou: Eu sempre te amei!. E expirou".

À essa altura do campeonato eu já me derramava em lágrimas. Não só pela história, mas por estar vivendo um momento difícil, sentimentalmente falando.

E seu José parecia saber disso. Ele me olhou e disse: "Minha filha, não chore. A vida é pequena e rápida para chorar por sentimentos não correspondidos e por pessoas que viram as costas sem dar adeus. Minha história com Maria não teve o fim que nós escolhemos. Ela morreu e me deixou para trás. Mas não foi ela quem quis assim e pensar nisso aliviou meu sofrimento. E você vai ficar sofrendo por pessoas que não valorizam você e tudo o que você está disposta a oferecer? Eles estão perdendo. Não você. Continue a sua jornada que é cheia de luz. Os bons espíritos a guiarão para que você seja feliz. Lembre-se que Deus está no comando e que as pessoas são ingratas, de memória fraca e estúpidas. Os vivos não aprendem nem com os mortos. Nem sabendo que a morte pode estar próxima, as pessoas vivem o que a vida tem pra oferecer de bom. Deixam-se guiar por desejos sombrios como o orgulho, o ódio, a vingança e a tristeza.

Filha, a tristeza é tão saudável quanto o amor. Mas tudo em exagero faz mal. Fique bem! Paz e Luz!"

E saiu.

Eu fiquei perplexa com toda essa fala. Aquele homem parecia que estava ouvindo as minhas orações e todo o meu pranto.

E ele tinha razão.

Perdemos muito tempo sofrendo desnecessariamente, com e por pessoas que não sofreriam um terço por nós. Deixamos de valorizar pequenos detalhes e pequenas felicidades esperando o dia em que a grandiosa alegria virá. Esquecemos que tudo o que é grande foi montado através dos pequenos. Permita-se viver sua fossa, mas saiba que você não foi Criado para estar naquele lugar.

E nunca, nunca tenha problema em demonstrar o que sente ... Não é triste, nem vergonhoso. A única pessoa que está perdendo é quem, de fato, não aproveita a graça que é ser amado.

Não visite seus fieis defuntos só hoje. Se você realmente acredita, faça-o com frequência. Mas, acima de tudo, visite os vivos. Abrace, beije, diga que ama ... Pois, daqui um tempo, você poderá estar indo visitá-lo num dia de finados também.

"Um dia, todos seremos apenas uma fotografia na estante de alguém.

Depois,

Nem isso"

02 de novembro - Dia dos Fieis Defuntos.