Sentimento Musical


Olhava as teclas do piano. Podia sentir os sons. Não sabia nada de teoria musical. Não sabia ler partituras. Conhecia como todo leigo o dórémi. Mas olhava as teclas e sentia seus sons. Na mente se formavam várias combinações impulsionadas pelo sentimento musical. Era assim que ele chamava a ligação que tinha com a música. Tocava uma tecla e a segurava e ficava sentindo o som. Não sabia se era ou , mas sentia. Tocava outra e largava e sentia um gozo espiritual com o som. Percebia as graves e as agudas. Experimentava acordes mesmo sem saber o que eram acordes. E sentia a harmonia quando juntava mais de uma tecla apertada ao mesmo tempo, um prazer musical e espiritual inundavam sua mente. Quando percebia estava fazendo música. O tempo parava e só existiam aqueles sons, aquele piano. Estava em transe. Num transe musical. Sua mãe dizia que era um dom. Seu pai dizia que tinha ouvido musical. Um amigo dizia que deveria entrar para uma escola de música e aperfeiçoar a teoria. Dom, ouvido musical, escola. Nada daquilo lhe interessava, mas apenas a música que ele extraia do instrumento. Não conseguia se ver fazendo música por obrigação ou para atender um currículo acadêmico. Tinha esse espírito livre. Queria criar infinitas combinações de acordes nas teclas brancas e pretas do piano. Não era obrigação. Não era tarefa. Era necessidade. Prazer. Ele não precisava de partituras, tinha as combinações em sua memória musical. O amigo trouxe um professor de música para conhecê-lo. O professor ficou admirado com a música dele e pediu para ver as partituras. Pediu então que as criasse e ele criou seus próprios símbolos musicais. O professor não ouvia os sons por meio dos símbolos que ele criara. Então ele tocava para o professor. O professor insistia na letra e ele na música. O professor estava aprisionado ao academicismo e ele era livre. O professor desistiu dele, não dava para trabalhar com um sujeito que não tinha interesse na teoria. Insistiram com ele, mas não se pode convencer um verdadeiro espírito livre viver aprisionado, não se pode limitar a arte verdadeira, as regras acadêmicas não podiam coagir seu sentimento musical. Ele não desejava sucesso. Palmas. Reconhecimento. Ele desejava continuar tocando o piano de maneira livre, pois somente com liberdade a verdadeira arte pode crescer e multiplicar.
Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 31/10/2016
Reeditado em 31/10/2016
Código do texto: T5808613
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