Normalistas formadas em 1968


 
            O ano de 1968 ficou na história por diferentes motivos. Jovens de diferentes países protestaram em favor da paz mundial, condenando a chamada Guerra Fria, travada entre a extinta União Soviética e os Estados Unidos. Embrião de uma consciência social mais ampla que consistia em não aceitar que o mundo fosse dividido entre as duas potências econômicas e militares. O eco desse momento, no Brasil, foi também o despertar de um sonho por um país mais justo e democrático. Alguns jovens se equivocaram na escolha da luta armada para combater a ditadura militar, dando início à Guerrilha do Araguaia. Vieram os terríveis anos de chumbo. Enquanto isso, em São Sebastião do Paraíso, Sul de Minas, a data ficou no calendário dos grandes eventos existenciais, quando 61 moças receberam o diploma de normalista no Colégio Paula Frassinetti, mantido pela Congregação de Santa Doroteia do Brasil. Instituição instaurada naquela cidade mineira desde os idos de 1925.

            Às 9 horas do dia 6 de dezembro do inesquecível ano, Monsenhor Mancini celebrou uma missa de ação de graças pela formatura das jovens professoras. Blusas e meias brancas, saias azuis pregueadas e discretos sapatos, ornavam a exuberância das meninas educadoras. Na cerimônia religiosa, elas fizeram o juramento e receberam o certificado de catequista, tendo como paraninfa a Madre Superiora Zélia Soares de Paula. O certificado, com o visto do Bispo Diocesano, Dom José de Almeida Batista Pereira, era assinado pelo capelão do Colégio, padre Geraldo Rezende, que como pároco da Igreja de Nossa Senhora da Abadia, iniciou na cidade, o movimento de Renovação Carismática.

            Ao cair da tarde, do mesmo dia, no inesquecível palco do Cine São Sebastião, ocorreu a cerimônia de colação de grau, com o ambiente repleto de familiares e convidados. As formandas adentraram ao recinto, vestindo beca azul curta, com um elegante jabot, luvas e sapatos brancos de tira francesa com um discreto meio salto grosso. O empresário Wando Marcolini foi o paraninfo da turma e Tânia Aparecida Vasconcelos Pedroso discursou em nome das colegas. São traços registrados em caderninhos das estudantes que preservaram eventos marcantes da vida estudantil. Ficaram lembranças da simpatia da Madre Edméa da Cunha Jordão, registrada no Ministério da Educação para ensinar Matemática, Ciências Naturais e Geografia. A irmã Maria Luísa Morais foi quem cuidou do cerimonial da grande festa, cuja lembrança está preservada na memória das professoras de 1968.

            No curso ginasial, concluído em 1965, a professora Gersone Couto Vilela ensinava Inglês; a irmã Solange Morais, Francês; a professora Dinoherci Carnevale lecionava Língua Portuguesa e o professor Keller, ensinava Latim, na mesma época, que ensina Inglês em outros estabelecimentos da cidade. Ficaram na memória as aulas de Geografia, ministradas pela professora Aurora Aloise, no curso ginasial. Didática e Prática de Ensino, no curso normal, eram ministradas pela professora Nilce Godinho e Educação Física, pela professora Sebastiana Dramis, farmacêutica formada pela Escola de Farmácia e Odontologia de São Sebastião do Paraíso. Ficaram ainda registradas, as aulas de Matemática, ministradas pela irmã Sônia Fajardo, no curso ginasial. A irmã Lourdes Oliveira ensinava Canto Orfeônico, no curso ginasial, e a irmã Jordão Cantos Infantis e Folclóricos, no curso normal.

            Uma dessas cenas rememoradas pelas jovens senhoras da atualidade foi uma greve ocorrida em 25 de agosto de 1968. No dia anterior, sem fazer alarde, as estudantes combinaram de faltar às aulas para assistir ao desfile do Tiro de Guerra, em comemoração ao Dia do Soldado. Foi articulada uma rede de bilhetinhos para colocar o plano em ação. Faltaram à aula e depois de assistirem ao ato cívico, tiveram que acertar as contas com a Madre Superiora. Ficou decretado que a matéria ministrada naquele dia, apenas para duas jovens que optaram pelo direito de não participar do movimento, seria cobrada na prova do final do mês. Para tentar amenizar a bronca da diretora, quase todas argumentaram que faltaram voluntariamente, sem que nada combinassem entre si. Foram momentos saudáveis de aprendizagem extracurricular para comemorar a vida, com alegria e espírito estudantil.

            A direção do Colégio era exercida pela Irmã Maria do Carmo Carneiro de Novais, mas quem assinou o diploma conferido às jovens professoras foi a Irmã Maria Torres Nastari, que havia participado da implantação do colégio da mesma congregação de Belo Horizonte, chegando ao Colégio de Paraíso, nos meados de 1968. A secretaria do colégio estava sob os cuidados da Irmã Maria Dagmar de Carvalho. A Irmã Silva exercia as funções de porteira e sempre carregava na cintura um enorme molho de chaves. São traços preservados no diploma conferido às jovens professoras e na memória coletiva da turma. A Irmã Brasil cuidava da cantina, a Irmã Oliveira fazia os serviços de enfermaria, enquanto a Irmã Ribeiro cuidava da despensa do colégio e da comunidade religiosa.

            O currículo do curso normal era constituído pelas matérias: Didática Geral (Irmã Souza), Português e Literatura (Irmãs Giselda Santos e Ana Deyse Pereira), Biologia Educacional e Química (Irmã Alba Furtado do Amaral), Canto (Wilma Ozelim), Matemática, Estatística e Didática da Matemática (Maria Aparecida Abdo), Didática Teórica e Prática (Nilce Godinho), Educação Física (Sebastiana Dramis), Educação Religiosa (Irmã Jordão), Filosofia (Dr. Hercílio Carnevale), Higiene e Puericultura (Gilda Aloise), Inglês (Adelina do Amaral Garcia ou Dona Leleu, substituída no segundo semestre de 1968 pela professora Bernadeth Rocha Resende), Psicologia Educacional (Aurora Aloise), Estudos Sociais e Ciências Naturais (Gilda Aloise), Filosofia da Educação (Hercílio Carnevale), entre outras.

            Para finalizar esse retorno de quase meio século, podemos fazer uma “chamada” das professoras formadas naquele distante e próximo dia: Alice Bosco Arantes, Alice Santos Carvalho, Ângela Maria Belluzzo, Cairize Martins de Souza, Carmem Lúcia Fabro (in memoriam), Delma de Melo Lemos, Edilamar Campolongo, Edmar da Graça Leite, Eliana Porfírio Borges, Eliana Maria Lima, Elizabete Maldi Mandelo, Eloisa Ribeiro, Eny Aparecida Silva Dramis, Gilcia Braghini, Gleicy Ribeiro, Heloisa Helena de Pádua, Ivete Candiane, Jandira Pimenta Gonçalves. Joster Mara Paes. Leila Maria Paulino Vieira. Magda Farchi. Márcia Maria Pimenta, Márcia Regina de Carvalho, Maria Abadia de Oliveira, Maria Ângela Patrício de Pádua, Maria Aparecida Correa, Maria Aparecida Moura, Maria Aparecida Villela de Castro, Maria Clarete da Silva, Maria Elizabete Bícego, Maria Emília Machado, Maria Evanir da Silva, Maria José de Andrade, Maria José Barbosa, Maria José Fagundes, Maria José Neves, Maria Lúcia Patrício de Oliveira, Maria Martha de Miranda Almeida (in memoriam), Mariângela Rosa Pimenta, Maria Olímpia Costa Vilela, Maria Regina Silva, Maria Rita de Cássia Preto, Maria Sônia de Souza, Maria Teresa de Carvalho Montans, Marilda Félix, Mércia Maria Carneiro. Neide Martins Cunha. Nilva Aparecida Cândida Moreira. Regina do Couto Rosa. Regina dos Reis Corsi, Rosita Gonçalves Rocha, Ruth Galdino, Ruth Rodrigues Neto, Sandra Regina de Oliveira Penha, Sônia Maria Gonçalves, Sueli Gonçalves Gomes, Tânia Aparecida de Vasconcelos Pedroso, Vera Lúcia das Graças Soares, Vera Lúcia Marinzeck, Walda de Souza e Walna Aparecida Moura. A todas essas educadoras, as reverências da recente história da educação da querida terra natal.