Perdão é(e) liberdade.

Hoje eu vinha saindo de uma Agência de Viagens, meio atordoada, com sacolas e falando sozinha, tentando lembrar quais contas ainda faltavam pagar, quando bati de frente com meu primeiro namorado.

Eu o conheci por acaso, aos 17 anos, na rua onde minha mãe mora até hoje. Lembro que ele ficou com uma das minhas melhores amigas no dia do meu aniversário e nós começamos a conversar pelo Facebook exatamente por isso.

Depois de algumas semanas começamos a nos envolver de maneira intensa. Ele me deu tudo. De uma vez.

Mas também tirou tudo. De uma vez.

Ele me levou ao céu e ao inferno. Me deu o mar, depois me afogou. Me aqueceu com o seu fogo e depois me matou queimada.

Foi incrível que, ao olhar para ele hoje, toda essa história veio à minha cabeça de uma forma tão distante, que parecia um livro lido há alguns anos.

Fisicamente, ele não parecia em nada com o homem que eu amei. Bem mais magro, um rosto mais velho e abatido. Um sorriso sem brilho. Um olhar sem luz. Não parecia estar feliz.

Estaria ele provando dos mesmos venenos que aplicou em mim?

Espero que não. Foi algo doloroso demais e eu não gostaria que ninguém passasse por isso.

Seu dedo anelar esquerdo carregava uma aliança de ouro que inutilmente ele tentou esconder de mim. Inutilmente mesmo, pois eu já sabia que ele havia casado.

Foi aí que ele fez a seguinte pergunta:

- Agência de Viagens? Programando uma lua de mel?.

Soltei uma gargalha e respondi com um sonoro:

- Não!.

Sem mais.

Então ele avisou que seria um pouco indiscreto e perguntaria sobre a minha vida amorosa.

- Está com alguém?

Sorri por alguns segundos e respondi da mesma maneira:

- Sim.

Depois de um curto silêncio, eu avisei que precisava ir. Faltavam algumas coisas para fazer antes das 6. Ele falou que entendia.

Mas antes do "até logo", ele soltou:

- Sarinha, posso fazer uma última pergunta?

E disparou:

- Você me perdoou?

Com um sorriso demorado, eu peguei em sua mão e disse:

- Claro que sim, Fulano. Não foi fácil. Foi muito doloroso, por sinal. Mas a dor que eu senti noites a fio tornou-me uma pessoa melhor e mais forte. Hoje eu sei valorizar sentimentos, ações e palavras. Eu amadureci muito nesses três anos e eu sou muito grata a você por isso. Hoje eu amo alguém e sou amada, portanto faço de tudo para valorizar essa reciprocidade dentro de um relacionamento nosso, do jeitinho que a gente molda, fora desses padrões sociais tão mesquinhos e egoístas. Eu não tive raiva de você e a dor passou há um tempo. Hoje você é só uma lembrança boa de momentos incríveis que tivemos juntos.

Ele abriu um sorriso resplandecente, uma lágrima escorreu no lado direito da sua face, enquanto falava:

- Você foi a pessoa mais incrível que já conheci.

Eu o abracei e disse:

- As qualidades estão nos olhos de quem as vê.

E me despedi.

Aliviada.

E com uma vontade imensa de gritar ao mundo que a gente só dá o que tem.

E se você fizer alguma coisa ruim comigo, eu te retribuirei com coisa boa, pois aqui dentro só tem amor!

O perdão nos fortalece de uma maneira incrível.