MORENA DA MANHÃ

Ela chegou com um sorriso tão doce e cativante no rosto que não pude resistir. Ainda bem, pois não queria mesmo resistir. Mas, não sabia se era o correto deixá-la me convidar para o que sabia não ser o certo!

Interrompi a minha corrida, o tempo não estava lá essas coisas. Por isso, não me importei em dar uma paradinha. Há um tempo na vida de um homem que a idade já não chega mais, avança, e este era o meu tempo agora. O que atrasava era o término da corrida sem aumentar a distância.

Ela desceu a escada do quiosque que leva à areia trazendo o seu corpo bem formado até à praia deserta naquele horário. Era muito cedo e ela vinha, certamente, de uma noite de farra, bebida, sexo, drogas e rock 'n roll? Rock, não! Funk, mesmo! Pensei rapidamente!

Havia parado uns cinco metros à frente. Travei o cronômetro. Olhei para os lados para conferir se alguém mais nos observava ou se aproximava, ninguém, só nós dois e as ondas quebrando suavemente na beira.

Excitado com a situação, voltei-me na direção da morena que me sorria toda esbelta num short indecentemente curto e uma blusinha que deixava a marca dos bicos dos seios no tamanho certo de meu desejo!

Caramba!!! Pensei eu. Como pode isso? Logo pela manhã, uma garota linda e tentadora me oferecendo a maçã do Éden. O sol estava começando a sair e o dia já mais do que prometia. Dane-se a corrida! Ou melhor, viva a corrida, pois foi por causa dela que eu estava vivenciando toda aquela inusitada situação.

Fui chegando, chegando, até estar a pouco mais de meio metro de seu rosto. Podia-lhe sentir o cheiro leve de alcool de uma noite recém terminada misturado a um cheirinho suavemente doce que ainda exalava de sua pele morena e acetinada. Não sou vampiro, mas o seu pescoço lisinho atraía-me o olhar e minha vontade naquele momento era tê-lo mordiscado, arrancando da jovem mulher pequenos gemidos.

Confiante da conquista, já ia me achegando mais à morena quando ela dá um passo atrás, seco. Eu hesito! Ela, simplesmente, me pergunta pelas horas. Totalmente atordoado com a esdrúxula situação, tentei recompor-me com um sorriso imbecil que havia permanecido na cara, abaixei os olhos até o relógio, troquei a função cronômetro para horas, e sem limpar a garganta do embaraço que estava, informei a hora numa voz rouca, embaralhada, insegura. A morena com um sorrisinho que era tudo o que eu não precisava naquele momento, virou-me as costas e rapidamente subiu as escadas até sumir de minha visão.

Troquei novamente as funções do relógio, respirei fundo, olhei para a frente e retomei a corrida sem graça que estava fazendo naquela manhã levando comigo aquele sorriso idiota que havia se pregado no meu rosto e que tão cedo não desapareceria.

Ainda faltava um bocado de areia a ser corrida até o banho frio em minha casa!

É uma droga envelhecer, pois as distâncias só aumentam!