Desassossegos Incontáveis - Sobre Minha Caixa Postal

Já faz algumas estações que uma avalanche de acontecimentos, de afrontas, de poderes, de emoções, de desassossegos incontáveis têm me feito perguntar um pouco mais e responder um pouco menos.

Percebo que estou me tornando um objeto obsuleto, descartável, cheio de atrativos que incomodam por atrair. Até parece que me confundem com algum monumento "feio, mas imponente", "grande, mas invisível". Talvez eu agora seja como uma estátua de jardim, que não podendo competir com a beleza das flores, deixa de ser enfeite e se torna susto e medo pra quem contemplar. Ou, talvez, virei um bibelô de R$1,99 colocado no centro da mesa, mesmo estando cheio de pó!

Naverdade, eu não sei mais o que sou, mas sei que prefiro não ser. Difícil! Muito difícil!

Eu estou procurando o botão que faz ligar e desligar, que apaga a luz verde pra acender a vermelhinha. Não encontro esse botão faz tempo, venho funcionando freneticamente faz anos!

Dediquei minha vida ao serviço sacerdotal numa sequência insana: eu achei ovelhas, lavei ovelhas, ensinei ovelhas, ouvi ovelhas, carreguei ovelhas, alimentei ovelhas, amei ovelhas, vesti ovelhas, mimei ovelhas, corrigi ovelhas, renunciei por ovelhas, enfim, me perdi e me achei, perdendo e ganhando ovelhas. Foi isto que fiz a vida toda!

Hj um amigo, também pastor, me disse: "Você podia ter rejeitado o chamado, mas vc aceitou"! Ele tem razão, foi eu mesma que aceitei este chamado que me põe nesta posição onde há "temores por dentro e por fora combates". Foi eu mesma que renunciei ao direito de ter juventude, sonhos, bens materiais, desejos bons e desejos ruins. Fui eu que acabei sendo um pouco menos mãe, menos esposa, menos profissional, menos pessoa, menos eu mesma, para ser um pouco mais "pastora - guia -proteção". Fui eu mesma que fiz isso!

Como afirmei no início desta reflexão, vivo uma estação de desassossegos incontáveis. É nesse momento que quase deixei de crer que ainda posso crer. Não tenho mais quase nenhuma resposta. Tenho milhares de perguntas que não cessam de gerar outras tantas.

Estes desassossegos incontáveis que me tornam dessassossegada, também bateram à porta do apóstolo Pedro e, assim como eu, diante de Cristo, ele perguntou: "E quanto a nós, que deixamos tudo pra te seguir"?

Impressionante diálogo se instaurou e o Cristo respondeu: "Em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do evangelho, que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, com perseguições; e no mundo vindouro a vida eterna".

Diante dessa resposta que "vem do alto, descendo direto do Pai das Luzes", acho que o correio celestial está com graves problemas operacionais. Em minha caixa postal só estou recebendo as perseguições! Que eu não seja ingrata, e nem infame, e nem vil, mas ainda não vejo casas, nem irmãos, e nem irmãs, e nem mães, e nem filhos, e nem campos...

Por alguma razão que desconheço, no entanto, eu ainda vou crer na vida eterna num outro mundo vindouro!

Mesmo assim, todo dia, diante de incontáveis desassossegos, eu pergunto, e pergunto, e pergunto a pergunta apostólica de Pedro: "E quanto a nós, que deixamos tudo para seguir Jesus"?

Patrícia Carnieto
Enviado por Patrícia Carnieto em 29/09/2016
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