UMA BARRAGEM EM IGUAPE-SP- 3ª PARTE PERSONAGENS DE IGUAPE

UMA BARRAGEM EM IGUAPE-SP- 3ª PARTE

PERSONAGENS DE IGUAPE

Dias após a primeira visita à cidade, começamos a mobilização de recursos para executar a obra. A fase inicial de uma obra, a chamada implantação, compõe-se de uma série de providências de modo a possibilitar o início dos trabalhos propriamente ditos. Locação topográfica, contratação de moradias, construção de canteiro de obras, mobilização de equipamentos, abertura de créditos no comércio local, etc.,etc.,etc..

Por coincidência, para minha estadia alugamos uma casa vizinha à casa do Betico e do seu bar, que era ponto de encontro de vários iguapenses importantes . E, aos poucos, fui conhecendo muitos personagens da cidade. Na época, Iguape tinha dois grupos políticos: o Cocho e o Berne. Cocho é o local onde se coloca comida ou água para o gado comer. O grupo era assim denominado porque seus seguidores eram comandados por líderes que eram obedecidos a uma simples batida de mão, gesto similar ao do homem que alimenta o gado e bate no cocho para que os animais iniciem a comer. Berne é uma larva colocada por uma mosca que se transforma em um tumor com um bicho entranhado na carne do animal. Assim, significava que o grupo do Berne era um só corpo, com seus membros solidamente unidos. Mais ou menos isso. Betico abria o bar lá pelas 10 horas da manhã, sentava com uns amigos e jogava buraco até aumentar o movimento, com os fregueses que tomavam um aperitivo antes de almoçar. Fechava o bar às 13:00 horas, entrava em sua casa, almoçava, fazia uma sesta e reabria às 17:00 horas, até sair o último freguês.

Eram presenças obrigatória algumas figuras: Tito Vani , cantor lírico que havia sido parceiro da Bidú Sayão. Lembro que Tito vivia reclamando da doença de sua mulher e da cachorra que latia a noite toda e não o deixava dormir. Pobre, velho, às vêzes dava uma canja e cantava uma Ave Maria ou outra peça. Era sempre muito aplaudido. Assumia um tom solene muitas vezes e fazia discursos de amizade aos mais chegados. Presenciei a seguinte declaração: “ Iguape! Nunca fui tão feliz! Rodeado de bons amigos, boa bebida, boa comida, embora esteja ultrafudido!”. Outro frequentador era o sargento da Marinha que representava a Capitânia dos Portos. Um japonês que havia ganho um concurso de cavaquinho na Rede Record sempre mostrava suas habilidades. Um empresário que tocava clarineta. Um senhor que tocava violão como poucos e um tocador de pandeiro. Muitas vezes todos se reuniam, formavam um regional e a seresta entrava noite adentro. Era puro deleite ouvir a boa música brasileira bem tocada. Coisas que aconteciam no Bar do Betico.

Havia também a turma do Estaleiro, em frente ao Mercado de Peixe. O dono do açougue da cidade, o dono da choperia, peixeiros, o dono do estaleiro e alguns outros amigos, duas ou três vêzes por semana inventavam um motivo e faziam um churrasco ou outras iguarias. Lembro de um arroz com caranguejo feito na cerveja. Uma delícia. No estaleiro havia um esquema pronto para churrasco: churrasqueira de roda de caminhão, um pote com sal grosso, outro com açúcar, uma geladeira com cachaça, cerveja e limão. Espetos e sacos de carvão a vontade. Era só avisar o cara do açougue para trazer a carne e o da choperia trazer um barril de chopp.

Paulo Miorim 24/09/2016.

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 25/09/2016
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