Eu, eu e eu

Existem vários “eus” e neste texto mostrarei alguns. Este texto pode ser algo realmente verdadeiro e levemente perturbador.

Primeiramente, fora equipe de edição da FOX (sim estou falando dos filmes de super herói).

Sempre fui muito intenso no que fiz... em todos os sentidos. Entrei no mundo do punk rock depois de anos de abuso psicológico no colégio. Eu que não tinha rumo, encontrei no punk um válvula de escape do único eu que existia, o eu que me privava de quebrar o nariz daqueles boçais. O eu protetor entrou em colapso quando entrei no meu primeiro mosh pit e abri meu supercílio. Esse meu novo eu era seguro de si! Era o rei do mundo! Eu quebrava paredes com meus punhos se quisesse. Eu poderia estar indo em aniversários de 15 anos ou me divertindo em festinhas com uma garrafa de vodca e rodas de verdade ou desafio, mas esse eu estava aproveitando minhas noites com internet discada baixando uma musica de punk rock a cada duas horas e estudando sobre contra cultura. Eu sentia que meu vazio estava abastecido quando escutava os álbuns do Black Flag e lia sobre anarquismo.

Com o tempo o meu eu insano foi ficando mais faminto. Só meu ódio pelos meus pais, pelo sistema, pelos emos, pelos malditos passarinhos que não me deixavam dormir as 5:30 da manhã, pelo sertanejo, pelos cantores sertanejos, pelo sistema, pelos padrões de beleza e pela pessoa que criou a porcaria do sagu com vinho não estavam mais me suprindo e eu precisava urgentemente mostrar para o mundo que eu estava vazio. Nesse momento eu consegui descobrir que meu 1,9m e meus 120 kg poderiam ser uteis em uma briga.

No meio de todo esse caos eu tive minha primeira relação sexual. Momento propício para nascer um novo eu, o eu que acreditava que um dia iria achar alguém que transasse como uma ninfa e me entendesse como uma psicóloga, o eu que queria alguém pra viver e morrer junto, o eu que queria proteger alguém... o eu sentimental. Nesse momento em diante ódio e amor trocavam mais de posição no controle da minha cabeça do que a presidência do Brasil nos últimos 30 anos (igualmente aos presidentes do Brasil eles conseguiram me ferrar quando estavam no controle).

Eu estava fora de controle. Eu era puro amor e ódio. Quando eu não estava com alguém eu destruía o mundo. Quando eu me apaixonava eu tentava reconstruir um mundo melhor. Às vezes as pessoas que eu estava me ajudava a destruir o mundo. Foram tantos picos que eu me perdi no caminho. Eu me perdi em drogas e em bebida. Todos os eus concordaram que eu teria que me matar lentamente e subitamente em overdose.

Depois da minha primeira overdose, eu fui internado. Meu eu protetor voltou. Ele assistiu tudo de fora e viu todos os meus eus se autodestruindo por falta de controle. Meu eu protetor tomou comando. Foi um ótimo capitão ouvindo e aceitando todos os tipos de opiniões dos outros eus. Minha vida tomou um rumo. Comprei um vídeo game. Comecei uma faculdade. Voltei a fazer aulas de Boxe. Tinha amigos. Era feliz!

Mas nada estava perfeito para o meu eu que acreditava no amor. O eu do amor resolveu tocar o foda-se e trocar meu vídeo game por uma mulher. “Não passe o controle da sua vida para outra pessoa” dizia o meu lado mais protetor, meu lado revoltado estava perplexo por eu deixar toda a minha revolta e raiva por uma mulher e o meu lado mais sentimental estava vestindo uma sunga branca e pronto para pular nessas aguas desconhecidas ate então.

Quando o meu lado emocional de sunga pulou, foi como se eu tivesse entrado em controle automático em uma montanha russa de boas sensações. Eu tive as melhores experiências da minha vida. Eu me senti em um gato gigante que cagava arco íris pelo espaço. Quando estava com ela parecia que todos os meus neurônios estavam fazendo uma suruba no meu cérebro. Quando eu ouvia a risada dela eu sentia como se meu aparelho auditivo estivesse tendo um orgasmo por conta da perfeição. A voz dela poderia muito bem substituir todas as minhas musicas preferidas. Quando o sol batia nos cabelos dela parecia que a ponte de Valhalla se abria e que Odin me esperava com uma caneca de bebida. Meu eu protetor gritava em agonia e meu eu revoltado não entendia como eu me tornei um bostinha emotivo.

Mas a montanha russa, no ponto mais alto, perdia o controle e saia dos trilho. Tudo acabou... Nesse momento meu eu sentimental desapareceu. Meus outros eus ficaram sem saber que rumo tomar. Não existe mais ninguém querendo o controle.

E neste momento o que faço eu se ninguém quer o controle? Fico no aguardo de um outro eu.