Carta Aberta

Já era noite! Entre anseios, medos e hesitações, debatia-me na pressa angustiante de abri-la. Mas o que estaria escrito nas linhas que o destino escreveria? Por algum momento me percebi absorto em minhas idiossincrasias e refiz no recôndito de minha memória um passeio sobre as leituras que me moviam para o ímpeto de degustar cada palavra que logo ali se desnudaria para meu deleite. Mas o receio era parte indissociável da aquarela que se pintaria em poucos giros que os ponteiros dariam. Eis que era aberto o papiro aos signatários de uma missão tão exequível quanto improvável: sua rejeição. Mas aconteceu. Espoliados de um direito trivial, desaprendemos o que havíamos retidos nas trincheiras do nosso cosmo de celulose. Li e não quis acreditar! O destinatário estava fadado aos desmandos do remetente. E aquele vento tão favorável que unia os transeuntes que ligavam o mundo com a materialidade trazida em suas sacolas, agora, simplesmente estagnou-se na falta de compromisso com o próximo e também consigo mesmo. Sem alísios, alívios e ávidos por cifras que em pouca contagem que alterna sol e lua, logo, logo se sublimaria. E foi desvelado o conteúdo da missiva: uma sonora carta bomba que nos dizimará pela covardia de muitos oprimidos, embora, assim não se sintam. Aconteceu ontem. Desistiram da luta contra os golpes que muitos alardearam e, não ingenuamente, corroboraram com o epílogo de uma bela história construída num histórico modelo adverso de credibilidade. Estava escrito na carta: desistimos de viver e lutar para testemunharmos em vida nossa própria morte. É o fim do azul amarelo que porta e entrega compromissos, sentimentos e valores pela ruas de nossos Brasis!

Mário Fiúza

Mário Fiúza
Enviado por Mário Fiúza em 15/09/2016
Reeditado em 29/03/2022
Código do texto: T5762249
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