Predestinado

Predestinado

Não saíra tão mal, o colorido fazia com que seu rosto amarelado se apresentasse com uma cor especial, era possível ver em sua boca um meio esboço de sorriso,

foi o máximo que pode dissimular. Por sua vontade teria mesmo é mostrado os dentes, mas as condições dos mesmos não permitia. Sentia-se a vontade, não seria todo dia que teria a chance de ver sua imagem nas mãos de tantas pessoas no país inteiro e, quem sabe, também lá fora. Se fazem contrabando do Paraguai, por que não levariam também do Brasil? O melhor de tudo é que não era na página violenta de um vespertino, ou num programa policial de TV, era em um veículo de grande circulação, que todos teriam o prazer de adquiri-lo, de tê-los às mãos, mesmo pagando um alto preço...

Por que não pensaram nisso antes? Teria até se oferecido para modelo, nem cobraria nada, o retorno estaria com a satisfação de tornar-se conhecido por todos e de estar presente em muitos lugares.

Não era bem assim que gostaria de aparecer, escolheria qualquer posição que não fosse sentado, quem sabe a beira do mar, praticando algum esporte, ou ao lado de uma bela mulher.

O que importa é que ali estava, com uma imagem clara, ocupando todo o espaço disponível, como uma grande manchete. Comparado às outras fotografias da série, ganhava de longe, nem dava para comparar sua imagem com tantas outras fotos mostrando órgãos deformadas, em um cenário dantesco selecionadas para a campanha pelo Ministério da Saúde.

Ali estava, inteiro! ou melhor, quase inteiro, lhe faltava uma perna, a perna direita, que perdera com um câncer. Mas não tinha tanta importância, afinal estava em uma cadeira, de rodas.

Mutilado sim, derrotado não, pois sentia-se um vencedor ao lembrar-se de tantos óbitos de amigos, seus ex-companheiros do “clube da fumaça.” Por dentro, aos pedaços, mas por fora sentia-se novinho como aquela cadeira que ganhara após a sessão de fotos.

Imaginava milhões de cenas, via as pessoas curtindo o êxtase daquele momento, olhando para ele, soprando fumaça em seu rosto. Alguns com pena, outros por pura inveja, desejavam estar em seu lugar. Bem sabia que cedo ou tarde muitos chegariam de fato a ficar assim. Ou quem sabe bem pior. E nem teriam a sorte que ele teve, de ser escolhido ente tantos, garoto propaganda em um maço de cigarros!