UMA JOVEM JUÍZA E UMA VELHA IDEIA ou COMO UM TEXTO DE ESQUERDA VIRALIZA

Parabéns à jovem juíza que conseguiu com que seu texto encontrasse eco nas redes sociais. Ela diz que ralou muito, abdicou de vida social, feriados e família para estudar e se tornar juíza. Reconhece o seu esforço pessoal, mas acha que reconhecer o seu mérito é hipocrisia.

Defende a tese: nasceu branca, em família de classe média, estudou em escola particular, nunca lhe faltou comida ou material de estudo. Notei o mais importante e ao qual ela denota gratidão: teve os pais presentes e preocupados com a sua formação.

Destaco: PAIS PRESENTES E PREOCUPADOS COM A SUA FORMAÇÃO.

Aos pais dessa jovem quero cumprimentar, pois é certo que eles tiveram um papel preponderante e decisivo no sucesso da filha. Reconhecer o mérito deles não é hipocrisia. E, naturalmente, tiveram uma boa filha, que lhes deu satisfação e honrou o esforço despendido em sua educação. Bons pais, bons filhos.

Nem sempre bons pais conseguem ter bons filhos, pois, como diria o pensador francês: a sociedade os corrompe. Para não ser cooptado por essa sociedade de frivolidades, consumo ou do "politicamente correto" há que ser "linha-dura", tanto os pais quanto o próprio "querer" dos filhos. E aí credito maior mérito aos filhos, pois há que se ter um "querer" muito forte para não ser atraído pelos fáceis e deslumbrantes atrativos do "mundão".

Entendo que houve mérito, se houve esforço pessoal já é um mérito, e reconhecer isso não é hipocrisia, minha jovem juíza. Fazendo coro ao discurso da esquerda, sua suposta hipocrisia tem é outro nome: “demagogia”. Pelo visto o seu professor de história andou colocando algum “ensinamento” do “politicamente correto” em sua mente tenra. Reveja o assunto, talvez a sua posição mude.

Nem sempre os bons filhos têm a sorte de ter bons pais e também sabemos de maus pais e maus filhos. Isso diz respeito ao núcleo familiar desestruturado, sem base e equilíbrio esperados do que seria a célula mater da sociedade, em que pese a abominação dessa célula por correntes filosóficas atuais e rasas. A família continua sendo o esteio da sociedade, e quanto mais famílias estruturadas e sólidas, mais organizada e sólida será a sociedade. A nossa jovem juíza ajusta-se a este exemplo, teve apoio e incentivo familiar. Isso lhe valeu, em parte, o sucesso alcançado.

Os das correntes filosóficas, que chamo de rasas, são os teóricos do socialismo, do comunismo e que usam vestes de socialistas, comunistas, antropólogos e de intelectuais do “politicamente correto”, notadamente, circunstancialmente e assumidamente de esquerda. Brincam de esconde-esconde em searas do saber que, porquanto subjetivas, lhes permitem adquirir um ar de intelectualidade, e isso os deixa diferentes. E disso gostam. E nisso arrastam simpatizantes, principalmente entre os jovens que, por natureza, são idealistas e querem mudar o mundo. Acenam com essa mudança utópica, porquanto rasa, e patrocinam o embrutecimento dos jovens através de chamadas de ordem e de operações psicológicas sub-reptícias, arregimentando-os para quaisquer de suas causas, capciosas e utópicas. Deixarei para a História acrescentar as qualificações de MENTIROSA, COVARDE e PERNICIOSA.

Nenhuma oportunidade ou falta dela desmerece o mérito pessoal de quem se esforça por vencer. Se tem a oportunidade vai ter que competir com outros que também a tem, se não tem oportunidades vai ter que as criar ou buscá-las. Para equalizar isso devemos então proporcionar oportunidades iguais para todos, mas sem interferir no esforço e mérito pessoal, a não ser com estímulos. Observando que quanto maior o esforço, maior o mérito, haja vista o exemplo de atletas.

Como fazer isso? Penso que a saúde, a segurança e a educação sejam prerrogativas e dever do Estado. Pelo menos sob o seu controle e disciplina. Assim, sendo oferta pública, é mister que todos tenham acesso por igual. As escolas públicas, devem receber todos sem discriminação. Explico: o pobre, o rico, o negro, o branco, o portador de necessidades especiais, o filho do porteiro ou do dono do prédio, deverão sentar no banco escolar lado a lado, a partir do ensino fundamental e mantendo-se assim nos demais níveis de ensino até a graduação.

Dessa forma, acredito, a jovem (agora juíza) que tomo como exemplo, poderia ter exercitado a sua solidariedade, ajudando colegas com menor compreensão da matéria ou sendo ajudada por outros com melhor compreensão do que ela, seus pais ou ela poderiam dar carona para estudantes sem carro que estivessem no seu trajeto de deslocamento, mesmo poderiam convidá-los para um lanche ou para usar a piscina de sua casa no final de semana. Essa interação social, escolar e esportiva sim, poderia fazer uma integração social pela base... As crianças aprenderiam a viver as diferenças e a respeitá-las.

Seria partir do discurso para a prática, em que pese esta ser talvez outra de tantas teorias. Mas tenho, pelo meu entendimento, que a teoria é mais importante que a prática, pois ela é a força motriz intelectual, propulsiona e alavanca as ações e minimiza os erros da prática, tornando-a mais funcional. A boa prática é decorrência de uma boa teoria e esta inicia com uma boa ideia, seja oriunda de uma necessidade ou de algum estímulo.

O melhor investimento que uma nação pode fazer é na educação. Assim, se o investimento for maciço em educação dentro de alguns anos colheremos o resultado em todos os setores da sociedade.

Entendo que a jovem juíza tenha se expressado movida por seu desconforto devido às diferenças sócio-econômicas e oportunidades desiguais, e nisto ela tem razão. O viés do "politicamente correto" é que causa espécie.

Se nascemos iguais com a prerrogativa de sermos diferentes também o contrário é verdadeiro. Entretanto, concordo que a humanidade ainda não achou a sua equação de justiça e equilíbrio e nenhum regime, quer de esquerda, centro ou direita pode aclamar-se como ideal. O capitalismo, com seu consumismo, encontra respaldo em praticamente todos os regimes, à exceção dos poucos totalitários da esquerda extremista. Mas, a meu ver, este consumo material é errado. A euforia de uma sociedade que devora "consumo" em detrimento de uma vida mais simples e saudável é condenável. Há que se ter uma mudança de costumes, a começar por cada um.

Haverá talvez um dia em que o ensino e a escola íntegra (sem partido) será a mola propulsora de uma nova sociedade. A solução advirá com os novos líderes, mais sábios e mais inteligentes que nós, que se formarão nessa escola sem partido.

Até que isso aconteça, temos que ir conversando e melhorando a nossa convivência social como humanos e como irmãos, sem animosidades. Com novas e salutares ideias. E investindo nessas crianças de agora, e nas que ainda não nasceram, libertando-as dos estigmas, crenças e fanatismo de nossa atual geração.

Data venia, meretíssima!

Armand de Saint Igarapery (Textos no Recanto das Letras e no Face)