Dois Brasis

O discurso político baseia-se, ainda, na mais antiga forma de utopia. Hoje ele é o que o que sempre foi: um incentivo ao imaginário do povo com o sonho generoso de uma vida melhor. Todos querem ver um Brasil mais justo, com uma sociedade caminhando para o desenvolvimento sustentável.

A novela política não tem muita semelhança com a olímpica, embora ambas estejam irmanadas pela bandeira verde e amarela. Os brasileiros da abertura da Olimpíada corporificaram o povo cordial. O espetáculo atualizou o mito das três raças, congraçamento de índios, africanos e europeus. O enredo do país moderno é muito diferente. No recente movimento que ainda agita o Brasil, os argumentos do Senado foram mais sóbrios, mas a Câmara votou em nome de Deus, da família e exibiu intolerâncias de todos os tipos, sem contar os agravos machistas.

A votação do Parlamento trouxe à tona o Brasil contemporâneo, bem distante da polidez. O desrespeito ao adversário se materializou em adesivos ostentados em lapelas, com um traço proibindo mãos de quatro dedos, o que se apresenta como uma dissonância por atingir todos os portadores de deficiência. Além disso, foram manifestadas intolerâncias de todos os tipos.

O Brasil sem hierarquias nem conflitos ficou na abertura da Olimpíada. A dificuldade é que os dois se entrelaçam num só país. Um não vive sem o outro. O noticiário informa constantemente que denunciantes da corrupção, muitos deles, são corruptos assim como pacifistas praticam a violência. Resta-nos a esperança de que uma flor surja no asfalto e que a utopia não se reduza à ideia de evitar o mal, mas que projete o alargamento do horizonte do respeito e da responsabilidade.

Lindita
Enviado por Lindita em 07/09/2016
Reeditado em 07/09/2016
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