A DESAPARECIDA

 





 
Era feriado, caído em uma segunda-feira! Na rua, toda habitada e brincada por crianças, passou uma moto, carregando dois sujeitos mal predicados, mas não mal encarados, pois estavam de capacetes, em obediência à lei... Não! para não serem identificados. Um com um revólver, pela rua atirando de forma aleatória, a esmo, em uma guerra contra não sabe o que, nem sabe quem. Uma das balas, que era para ser perdida, achou a cabeça de uma menina de 6 anos que brincava na calçada ao lado de seus pais, que conversavam com a vizinhança. Bala perdida pela vida bandida. A bala perdida encontrou e deixou morta uma vida. Vida perdida! Tiros nunca são aleatórios, são movidos por uma vontade mal direcionada. E na falta de mira, qualquer alvura é alvo. Aleatória foi a vida da menina que se chamava talvez Luciana, Lúcia ou Ana. Que brincava com a vida, vestida com uma camiseta cor-de-rosa, a partir de então de sangue tingida. Foi atingida e teve a vida perdida. São opressivos, sufocantes e insuportáveis as dores que as pessoas conscientemente espalham pelo mundo, dotando o que fazem de culpa e dolo. Depois do rubro colorido, tudo muito dolorido. Assim, lá em Aparecida de Goiânia, desapareceu uma menina de seis anos que brincava na calçada. Não! ela foi desaparecida logo no início inocente da vida. Justo no dia da criança e de Nossa Senhora de Aparecida.

Goiânia, 12 de outubro de 2015.

José Eustáquio Ribeiro

(Escrevi essa crônica em outubro do ano passado, movido por um fato ocorrido... Não publiquei porque achei o seu mote muito dolorido. Agora publico, mas diminuí seu tamanho e tentei lhe dar um feitio de prosa poética. Pois se criança morre, se vê sublimada em poema).