Horário de Almoço

- Ah, o que todos querem é vida eterna! Todos os religiosos têm um único objetivo: viver para sempre. Espíritas, evangélicos, católicos, todos eles!

- Você não pode generalizar, Teófilo. Muitos se dedicam à religião movidos por amor.

- Sim, sem dúvida. Mas eles acreditam que seus atos de amor estão ligados à promessa de vida eterna. O amor é consequência dessa promessa. Se você convencer ou se o sujeito se convencer que não há vida eterna, a coisa esfria, perde o sentido.

- Bem, não penso assim. Quantas pessoas deixam tudo por amor ao próximo, quantas se desligam dos bens materiais!

- Sim. E isso reforça o que eu estou dizendo. Se a pessoa acredita na vida eterna, não faz sentido se apegar às coisas terrenas. Sei que você é cristão. Veja o que aconteceu com os primeiros seguidores de Jesus. Eles não vendiam tudo e entregavam aos apóstolos?

- Sim.

- E por que faziam isso? Porque tinham certeza de que Jesus viria em breve e todo aquele mundo caótico em que viviam seria restaurado e viveriam felizes para sempre.

- Hum…

- E aí, ele voltou? Já se passaram mais de dois mil anos e nada! E o que os seguidores posteriores fizeram? Reinterpretaram essa volta breve de Jesus. Sabe, por quê? Porque eles precisam de alguma coisa que lhes garanta a vida eterna.

- Bem, mas a fé não é só isso. Admito que os primeiros discípulos erraram. Assim como muitos erraram depois deles em tentar adivinhar a volta do Mestre.

- Sim, a fé. Ah, a fé! Como está escrito em Hebreus: “A fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos”. Veja! Eles acreditam, eles precisam acreditar para fazer sentido!

- Sim, Teófilo. Mas a fé é algo que não está no homem, mas é dádiva de Deus. Quero dizer que a fé é quem prova a esperança.

- Ok, sem problema. Mas essa fé tem que estar associada à vida eterna. Digamos que Jesus dissesse que os homens precisam amar uns aos outros e ao mesmo tempo dissesse que não existia vida após a morte para os homens. Onde estaria a fé? Qual seria o sentido de amar uns aos outros?

- Entendo. Mas existem pessoas que não creem na existência de Deus e são pessoas boas.

- Sim, mas suas bondades não são movidas pela fé, mas por uma vocação inata. Há no ser humano um prazer em fazer o bem ao próximo em dificuldade. Ser elogiado, ser aplaudido, se tornar referência, tudo isso é prazeroso ao homem e isso não tem nada a ver com fé, religião.

- Bem, então para você, todos esses religiosos buscam, em meio as suas diversas atividades religiosas, uma única compensação: vida eterna.

- Sim. Veja o grande apóstolo Paulo que disse que “combateu o bom combate”! Diz ainda, “guardei a fé”. Veja as palavras bíblicas: perseverança, esperança, coroa da vida, restauração, etc. Tudo se resume aos nossos desejos de vida eterna. As pessoas estão se lixando para Deus, Jesus, Maria, todos os santos, todos os valores religiosos; elas querem viver para sempre. Enquanto essas coisas estiverem lhes garantindo a vida eterna, tudo bem, mas quando elas deixarem de lhes garantir: pânico! Não é Deus que faz sentido ao mundo, mas a esperança de viver para sempre.

- Ok, Teófilo. Foi boa a conversa, mas tenho que ir, acabou meu horário de almoço. Amanhã a gente continua.

- Ok, meu amigo, até amanhã.

Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 23/08/2016
Reeditado em 24/08/2016
Código do texto: T5737156
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.