O “Dar Bom Dia a Cavalo! ” – ou “O que São Jorge tem com isso? ”

Usando a expressão de “dar bom dia a cavalo” fui questionado or um amigo, mineiríssimo da gema, se eu sabia o seu significado. Ante a expressão que fiz de que ali aprenderia algo mais, ele deveras me ensinou que se trata de uma maneira peculiar do pessoal da roça dizer que em determinados locais não carece nem a descida do cavalo, uma vez que a prosa do morador é cansativa e enfadonha, não valendo a pena, e, por isso, recomenda-se passar ao largo dando “bom dia”, sem descer do cavalo. Acrescentei esta pérola ao meu antigo conhecimento de que se tratava de uma expressão corriqueira de alguém que estava a falar com as pedras ou que melhor seria ter ficado calado.

Outro amigo, respeitado cidadão e profissional, mas que por força de uso costuma como que falar “é para mim dizer” ou “era para eu vim”, se referia à presidente como “presidenta Dirma”, eu alertava: amigo, não é “Dirma” o nome dela é “Dilma!”. Ele agradecia a minha correção, mas não descia do cavalo. E antes de chegar à porteira eu já ouvia seu muxoxo, seguido de: “Quem pensa que ele é? Estou com a Dirma e não abro! Não vai ter gorpe! E ela é presidenta...”– Este é outro lado do “bom dia a cavalo”, uma vez que entendi esta expressão servindo tanto a chico quanto a francisco.

Quanto a ser presidenta até não está errado, os dicionários e os filólogos concordam. Entretanto, hão de convir, o som não é legal, parece uma cacofonia como em alguns exemplos análogos: generala, estudanta, cadeta, crenta, gerenta, chefa, docenta, serventa, ignorante e, de aplicação mais recente, inocenta... Não vou implicar com o amigo, mas é melhor ele não descer da égua. Ainda bem que a égua não é cavala...

Este amigo passou, atravessou a porteira e vai continuar seu muxoxo, com o agora “vorta Dirma, vorta Dirma marvada, saudade do seu para-choque duro, dos faróis baixos...”. E levará sua égua para pastarem juntos em outro lugar que lhes seja mais aprazível. Ave Dirma! E que Deus os acompanhe!

Enfim, resolveu-se o impasse sobre a palavra, se do gênero feminino ou masculino. Por me querer passar por elegante, pretensão que me leva a abrir portas ao velho estilo de cavalheiro, coloco o gênero mais frágil (pois que ambos o são) em primeiro lugar e, cá pra nós, saída feia para uma presidenta ou presidente que foi a primeira representante (“a”?) das lindas, formosas, charmosas e inteligentes (“as”?) mulheres do Brasil. Que feio!

Resolvido este problema de gênero, pois não me peçam mais de dois que me atrapalho, volto à minha preocupação com o “bom dia a cavalo, ou à égua”... O amigo passou e misturou seu muxoxo ao murmúrio do córrego que o misturará, ao final, às vagas do oceano. Mas outros amigos continuam passando e outros virão, alguns vão apear e tenho que ter um café cheiroso e quentinho a oferecer-lhes, assim como um naco de prosa, posto que a hospitalidade tem que ser prata da casa.

Dirão que a ex-presidente, por ser mulher, propiciou o golpe, posto que se fora presidente-homem não seria deposta. Talvez eu responda que não foi nenhum dos dois: continuou guerrilheira! Guerrilheira de quinto escalão, mas que por ser mulher infiltrou-se à diretoria do clube e ali foi usada e abusada ideologicamente. E como está o cafezinho, aceita um pão de queijo?

Muitos ficarão só no cafezinho, agradecerão e “pé no estribo”. Outros, além do pão de queijo, vão repetir o café. Estes sei que vão querer alongar a prosa e tenho que estar preparado, pois o amigo vem de uma viagem de percalços e quer saber de melhores caminhos. Então devo ter, além do cafezinho, algumas palavras de orientação ou de consolo. Logo eu que sou mais um ouvinte do que um palrador..., mas com estes sei que eu também aprendo, pois aprendemos mais com a dúvida do que com a certeza.

Outros passarão ao largo, sem encurtar o caminho entre as porteiras de meu condado, pois já devem ter sido avisados de que por minha prosa não vale a pena apear e então não arriscam nem “dar bom dia a cavalo”... nem a gentileza de um cumprimento de passagem ao longe, retirando o chapéu. Se os cumprimentos não me chegam também o cheiro do meu cafezinho recém coado não lhes chega ao olfato. Mesmo assim, lhes tiro o meu chapéu e lhes desejo boa sorte.

Guerrilheira? Como assim? Ela é uma heroína, lutou pela democracia e contra a ditadura! – Exclamaram e continuam reclamando alguns... Então porque durante o governo militar tivemos cinco presidentes?, a maioria eleita indiretamente pelo senado, sendo que quando João Goulart foi deposto quem assumiu a presidência foi o presidente da Câmara dos Deputados e não um militar. Este período de exceção combateu grupos guerrilheiros que, armados e treinados em Cuba, subvencionados pela URSS, queriam transformar o Brasil em uma nova Cuba, pois estava na moda a ideologia de Fidel e as atuações de Che Guevara. Os guerrilheiros assaltavam bancos, cargas de caminhões, arregimentavam jovens com seus ideários inflamados, embrenhavam-se em florestas, matavam inocentes e executavam os desertores da causa. E a Dilma Roussef era a chefe (a) de alguns aparelhos (com eram chamados os grupos guerrilheiros). Pergunto-lhes se sabem usar a Internet como fonte de pesquisa?!?!...

Outros dirão: Mas ela é inocente, não cometeu nenhum crime...

Lá atrás daquele morro vejo passar boi e passa boiada e, agora também petistas, assemelhados e genéricos, escondendo o rebo preso no meio das pernas e, como lacaios simpatizantes e/ou fanáticos, tentando ingenuamente ainda ajudar seus líderes messiânicos ou bessiânicos. São jacus arrependidos que lá atrás deram bom dia a cavalo e que agora passam ao longe escondendo as suas caras. Nem veem que lhes levanto o meu chapéu e lhes desejo um “vão com Deus! ” – Em vão...que Deus, nesta hora, também está longe...

"Eu tenho um vice que é uma pessoa experiente, séria, que tem uma tradição política, que eu tenho certeza que saberá honrar e me substituir à altura. O meu vice não caiu do céu. O meu vice não é um vice improvisado. É uma pessoa competente, um homem capaz!" – Quem disse isso? – Parece um texto fora de contexto, mas soa como se uma profecia ou intuição, ou mesmo mais uma atrapalhada. Felizmente, ao que parece, assumiu a correção da curva na hora que ela saiu voando pela tangente. Força centrípeta atuando na derrapagem.... Ao volante o copiloto entendeu que deve salvar a corrida e a própria honra e não os pretensos e mancomunados patrocinadores.

Passaram muitos viajantes, uns a cavalo, outros andarilhos e muitas falas tivemos, mas vou ao final do relato..., antes que a vaca tussa, já que ela não foi pro brejo:

Veio um cavaleiro com capacete medieval e com lança em punho. Averiguei com os olhos a estrada de onde ele vinha e não enxerguei o fiel escudeiro. O cavaleiro se aproximou, sem descer do majestoso cavalo branco, perguntando, mesmo antes de qualquer cumprimento ou apresentação: “Onde está o dragão? .... Enviaram-me para matar um dragão que está queimando as riquezas dessas terras de Deus e espalhando a pobreza...”. Respondi-lhe: meu santo, Vossa Santidade chegou depois da hora, já não precisamos de seus préstimos, o dragão foi deposto..., mas, pensando melhor, se não tomar como atrevimento de minha parte e não lhe for incômodo, apeie deste belo ginete e venha tomar comigo um cafezinho. Gosta de pão de queijo?

Ao café, conversa ao pé do ouvido do santo, confidenciei: seria de bom alvitre e grande valia que Vossa Santidade ficasse uns tempos por aqui em alerta, posto que ao dragão foi-lhe imputado um médio confinamento, com a corda muito solta, e ele confabula com um monte de dragõezinhos espalhados por aí que podem ainda levantar as chamas do revanchismo e do desentendimento. Sabe aquele negócio de incêndio mal apagado? Não sei se o santo ouviu, pois parecia mais interessado em degustar o pão de queijo...

Armand de Saint Igarapery