O Avestruz

O avestruz

Priiiiiii!

Apita a porta giratória travando de repente. Todos olham desconfiados. Aquele senhor de maneira humilde, com vestimenta discreta se vê acuado sendo o alvo de tantos olhares e pensamentos terríveis explícitos no rosto das pessoas amedrontadas, que se encontravam próximas à entrada da agência bancária. Todos temiam que fosse mais uma tentativa de assalto.

Era o dia do pagamento de aposentados, e pouco tempo antes, um indivíduo tentando passar por acompanhante de idosos, fora flagrado pelo sistema eletrônico querendo entrar no banco portando uma faca peixeira na cintura. Por pouco não fora alvejado pelos seguranças quando tentava fugir da situação. Acabou sendo salvo por uma viatura da polícia que passava e atraída pelo tumulto, entrou no estabelecimento. Pegou o homem e o pôs no camburão, conduzindo-o ao distrito, deixando no ar a incerteza de que seria ou não um assalto frustrado, certo é que o rapaz tinha às mãos, um cartão eletrônico do avô.

O guarda muito truculento, com a mão no revolver, gritava algumas perguntas que soavam como ordens:

- Tem alguma chave de carro no bolso?!

Como podia portar algum este chaveiro, nem casa tinha, quanto mais carro.

-Tem telefone celular?!

Que telefone celular, o telefone mais próximo de que dispunha, ficava a mais de mil metros da local em que morava.

-Tem alguma prótese?!

Não sabia o que era, mas pelo tipo de palavra e a seqüência de perguntas, com certeza não tinha...

Tenta em vão forçar para frente a grande porta de vidro blindada, que o mantinha aprisionado como um animal pego em armadilha. Todos olhavam aquela cena intrigante, que corriqueiramente acontece com pessoas simples que sempre são suspeitas de alguma coisa, apenas por estarem no local.

-Vamos ter que revistá-lo!

Grita mais forte o guarda, com a chegada de mais seguranças colocando-se em pontos estratégicos de armas em punho, enquanto um deles pega a chave para destravar o mecanismo.

O Cidadão, suando frio começava a tremer. Não pelo fato de não ter se alimentado nesta manhã, pois a dias já não o fazia direito. De olho no calendário, esperava chegar o tão esperado dia “D” mesmo com a entrada do mês, ainda tinha que chegar o tal do quarto dia útil para que fosse liberado o dinheiro, estava apavorado.

- Nome?

- José Parreira

- Idade?

- Sessenta e dois

- Profissão?

- Carpinteiro aposentado

- Endereço?

- Bairro Novo Mutirão...

As perguntas sucediam-se. Meio atordoado, ele respondia sem tempo para raciocinar. Com a porta já aberta, um deles de forma grosseira lhe prende os braços às costas e o leva para a sala de segurança segurando com a outra mão pelo cós da calça.

Após muitas explicações, sem nenhum pedido formal de desculpas, é liberado indo postar-se no final da longa fila que já se reorganizara.

- Trabalhava desde criança e desde então adquirira o hábito de andar sempre com alguma coisa na boca. Mas nunca imaginara que alguns pregos e parafusos engolidos acidentalmente, fossem lhe causar tantos problemas.

Crônica ganhadora do XVI Festival de Poesia Crônica e Conto de Imperatriz - MA - 2003

Paulo Ivan
Enviado por Paulo Ivan em 21/08/2016
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