Adubo Orgânico

Adubo Orgânico

Com o carro de mão cheio, fazia o mesmo percurso todas as manhãs.

Meio dia, sol a pino, bolso cheio. Venda garantida.

- Olha a macaxeira, é fresquinha arrancada hoje!

- É macaxeira mesmo ou é mandioca?

- Macaxeira freguesa! E da boa, plantada com adubo orgânico.

Mesmo sem saber o que era adubo orgânico, a mulher leva dois kilos, já havia comprado antes e não se decepcionara. Era da boa, mole de cozinhar, fácil de descascar, boa de fritar. Gostosa mesmo. Se desmancha na boca.

A notícia espalha-se logo. A freguesia aumentava mais e mais.

- Macaxeira fresquinha, direto da horta!

É macaxeira ou é aipim?

Não tem diferença dona, cozinha bem, é macia. Plantada com adubo orgânico...

- O que é aipim?

Pergunta uma outra, espantada com o tamanho da raíz.

-É a mesma coisa de macaxeira. São grandes porque o adubo usado, é adubo orgânico, é tudo natural, sem agrotóxico, sem nenhum veneno...

Embarcara de vez na onda ecológica.

Com a divulgação do uso de produtos orgânicos a coisa melhorou.

A princípio não entendia bem quando via na televisão, mas com a explicação de um amigo, viu aí a oportunidade de faturar um pouco mais. Tinha nas mãos a grande chance de aumentar de forma considerável seu ganha pão.

Em visita a um terreno, viu naquela terra fofa, e bem florida, a oportunidade de fazer da idéia um grande negócio. Convencera o administrador a deixá-lo plantar alguns galhos para fazer uma experiência, e deu certo!

As raízes cresceram fácil, nem precisou de maiores cuidados. Feito o arrendamento, passou a cultivar a terra que lhe sorria com belos e grandes frutos em forma de raízes recompensando seu trabalho. Afinal em se plantando tudo dá, falava consigo mesmo, quanto mais naquela terra que só podia ser abençoada.

- Mandioca de primeira!

- Quanto é o quilo seu moço?

É só três reais o kilo dona,

- É muito caro!

É não dona, é plantada com adubo orgânico... (caro é alho repetia entre dentes um velho jargão de vendedor)

E assim respondendo a uma e outra freguêsa, ia atendendo a todos...

- De onde vem esta macaxeira?

Quer saber um homem de aparência arrogante.

-Da horta, senhor, horta bem cuidada, tem até muro para proteger de animais...

Respondeu rápido com esperteza para dar segurança à clientela presente e se livrar de vez do inquisitor...

Vou levar, mas se não prestar eu trago de volta!

- Pode trazer, eu devolvo o dinheiro na hora, compre mais um, faço dois por cinco...

Essa macaxêra cunzia que nem ovo né moço?

- Sai prá lá muleque, quer fazer pouco da minha cara é?

O menino afasta-se meio desconfiado, malsucedido em seu plano, o velho não era besta.

Pesa aqui, pesa ali, a balança não se aquietava, oscilando de um lado para o outro do fiel.

- Macaxeira fresquinha, arrancada hoje... Plantada com adubo orgânico!

Tudo ia bem, só uma coisa o preocupava: o forte inverno, que insistia em não passar. Além das chuvas fortes, temia que viesse o pior, e seus temores se tornaram realidade, ao chegar ao raiar do dia como de costume ao cemitério Jardim das Rosas, e encontrar tudo debaixo de muita água, pela enchente do Rio Tocantins.

Paulo Ivan
Enviado por Paulo Ivan em 18/08/2016
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