AQUELA PESSOA CONHECIDA

Muito possivelmente cada um de nós, indivíduos singulares e cheios de peculiaridades, viventes em coletivos, sociáveis em maiores ou menores pertinências, conhecemos alguém que não conhecemos. Conhecemos o seu rosto, seu modo de andar, como se veste e cumprimenta, mas, só. Cada um de nós temos em nosso ciclo semis-social aquela pessoa que cruza seu caminho diariamente, que te dar bom dia, boa tarde, boa noite. Saúda-te no restaurante, no bar e em clinicas. Aquela pessoa é simpática, alegre e sorridente por alguns segundos, pois quando a avistamos, vindo em nossa direção, separada por meia esquina, talvez cinco ou seis metros, percebe-se que sua afeição está seria, distraída, pouco interessada ao que acontece ao seu redor, é isso que vemos. E a cada passo seu e da pessoa conhecida, mudamos nosso andar, melhor nos posicionamos, levantamos o rosto e abrimos um sorriso. Logo, em um metro da colisão é expulsa a frase da ocasião: bom dia, boa tarde, ou, boa noite. Dependendo da pressa, é solto energeticamente um "OPA!" Sendo em dia de menos correria, ainda nos arriscamos a completar o bom dia, seguindo de um "tudo bem?" Contudo, sem esperar a resposta. Mas, já mais é negada a palavra, o cumprimento, somos pessoas educadas e não queremos decepcionar o momento de ninguém, a gentileza ainda é a melhor ação humana para com o próximo. E dia pós dia, as cenas se repetem, cada qual é educado, sorridente. Passamos, falamos, ao fim do curto dialogo o cheiro daquela pessoa está impregnado em suas narinas, você já o conhece, se for entendedor de perfumes saberá qual ela usa. Após estes encontros, entramos em um monologo mental profundo - de onde a conheço? - De onde ela me conhece? – para onde vai? Estendemos esse exercício de memória até no máximo 20 segundos. Contudo, cada dia é um dia, todos eles têm suas surpresinhas, sejam lá quais forem. Logo, haverá uma ou duas surpresas compartilhadas com aquela pessoa conhecida. Aqui estamos em nosso dia a dia, fazemos nossas coisas, nos estressamos, rimos, pensamos besteiras e no que comer. Independente de onde estejamos é isso que se passa em nossas cabeças, seja na rua, no trabalho ou indo para ele. Ora, estamos aqui, ou lá, em nosso corrido cotidiano, tomamos um ônibus, pegamos o dinheiro, passamos a catraca, procuramos a cadeira próxima a janela, puxamos nossos fones de ouvido e, antes que nos seja permitido ouvir aquelas musicas que mais servem para nos distrair naquele coletivo do que para serem apreciadas, eis que surge ao nosso lado, aquela pessoa, e aquela pessoa senta ao nosso lado, e nos cumprimenta! São usadas todas as palavras de ocasião, e todas são respondidas! – e agora? Acabaram-se as palavras, a gentileza, a educação! Mas não é demonstrado, ficamos ali, por alguns segundos, com pequenos sorrisos e mãos nervosas, até que aquela pessoa conhecida, que está mais próximo ao corredor, por tanto mais livre, diz – bem, estou indo, vou pra li, oh. Apontando, como se ali estivesse seus pais, namorado, melhor amigo, ou uma pessoa mais conhecida. E nós, novamente educados, abrimos um sorriso maior ainda, com os olhos brilhando, dizemos – já? Tchau! Até mais, viu. E amanhã será um novo bom dia, cheio de bons dias para aquelas pessoas conhecidas.

Sebastião Monte Moreno.

Sebastião Monte Moreno
Enviado por Sebastião Monte Moreno em 31/07/2016
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