DISCRIMINAÇÃO

Morava eu na periferia da cidade. Convivia ali com meus pais, minha avó e dois irmãos mais novos. A casa era alugada e meu pai com sacrifício do trabalho pagava religiosamente o aluguel mesmo antes do vencimento. Era questão de honra manter suas contas em dia. Meus irmãos menores estudavam numa escola pública no bairro que morávamos e muito próximo de nossa residência. Mas, eu cursava o Ensino Médio. Estava no 1º ano e como meu pai queria que eu tivesse um estudo de melhor qualidade matriculou-me numa escola particular no centro da cidade. Eu era bolsista. Escola de renome. Elitizada. Eu, pobre coitado! Queria dar esse prazer a meu pai. Através do estudo, me qualificar, ter uma profissão honrosa para retribuir ao meu pai tudo de bom que ele de mim esperava.

Início do ano letivo. Professores se apresentam aos alunos; alunos aos professores. Cada um falava um pouco da família. É a apresentação inicial onde todos ficam se conhecendo. Afinal é como uma nova família onde todos terão um ano para dividir tarefas, ocupar espaços, trabalharem em conjunto, etc.etc.etc.

Ali estudavam filhos de empresários, médicos, advogados, bancários, enfim alunos que viviam uma realidade totalmente diferente da minha. Eu era da periferia e filho de operário de indústria. Meu pai era metalúrgico e minha mãe trabalhava num frigorífico de aves. Meus dois irmãos que estudavam numa escola perto de minha casa ficavam sobre os cuidados de minha avó com quase 70 anos de idade.

Começou então para mim o que posso chamar de pesadelo. Por ser de periferia comecei a sofrer maus tratos, discriminação e preconceito por parte dos meus companheiros de classe.

Devido ao bulling que sofria na escola não conseguia assimilar bem os conteúdos aplicados.

O que eu lá sofria não comunicava aos meus pais para não deixá-los frustrados. Seu maior orgulho era me ver numa escola particular. Eles me olhavam e viam em mim um status diferente. Não imaginavam o quanto sofria para satisfazer seus desejos. Ele queria o filho qualificado, com uma profissão decente e acreditavam que eu estava na escola ideal para a realização deste que era o seu grande sonho. E o meu também, é claro.

Mas, como tudo tem o seu fim, cansado de me acovardar diante da situação, resolvi abrir o jogo e contar tudo a meus pais como era meu tratamento na escola por parte de meus colegas de classe.

E o pior era que nem para meus professores eu contava o ocorrido. Também não queria contraria meus pais.

Foram muitos dias em que sofri humilhação. Minha bolsa se não estivesse comigo, era jogada no lixo. Tomavam o dinheiro que às vezes levava para o lanche e diziam: pobre não tem dinheiro isso é roubo. Taxavam-me de ladrão. Pisavam no meu pé e diziam: Pobre de periferia não pode sujar o nosso chão.

A rejeição que sofria era imensa. Diante de tanta discriminação e preconceito levei ao conhecimento de meus pais que ficaram pasmos ao saber a verdade. Imediatamente fui transferido para uma escola pública onde meus estudos começaram a deslanchar.

Ainda restam sequelas, mas agora me sinto seguro. Tenho amigos e na escola e na classe que estudo reina o companheirismo e a compreensão dos amigos e professores que me acolheram. Eles são para mim a certeza de que com esforço e perseverança em breve atinja meus objetivos; qualificando-me para a profissão que tanto sonhei: Quero ser advogado!

Antonio Barros de Moura Filho

Antonio Barros
Enviado por Antonio Barros em 15/07/2016
Reeditado em 23/05/2017
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