Lobato sabia
Tentar entender o porquê Monteiro Lobato disse que uma nação se faz com homens e livros não é tarefa árdua. Árduo é viver observando o desinteresse dos homens pelos livros.
Entrar em uma biblioteca e se deparar com paredes paquidérmicas de conhecimento e recheadas de prazer pode não existir preço a mensurar. Ali, uma grande viagem pode, e é realizada sem transpor barreiras físicas: em imaginação pode-se avistar o que há de concreto em qualquer parte do cosmos. Tudo através do que está disposto em linhas escritas com brio e primor por pensadores, trovadores, poetas, cronistas, romancistas e outros brilhantes coadjutores da obra literária. Pena que esse devaneio não é de comum consenso na humanidade. Mas Lobato sabia... que ao escolher e folhear um bom livro, um novo universo se revela. O império das letras age como um instrumento transformador. Das folhas saltam impactantes aforismos, reflexões, colocações, pensamentos e composições capazes de entorpecer de alegria àquele que se deixou alvejar.
No silêncio da biblioteca há uma entrega verdadeira e magnânima ao mundo do conhecimento. Só quem conhece sabe... É um ambiente propício ao desígnio de aprender o que poderia ficar oculto pelo resto das vindouras estações. Mas se no outono florir o desejo de adentrar ás portas, não exite, entre!
Não seria um equívoco tomar a linha de raciocínio de Heráclito e modificar a sua frase: “Nenhum homem pode permanecer igual depois de ler alguns bons livros. Pois depois de lê-los, o homem já não é o mesmo, nem os livros são mais os mesmos”. Agora são seus amigos.
Negligenciar a existência dos livros que nos orlam como se estivessem a clamar por socorro é implorar pela desconstrução do pensamento de Monteiro Lobato. É como arrancar o leme de um barco que está indo rumo ao iceberg. É deixar a vida passar sem conceder a oportunidade de desvendar o mundo das letras e da transformação. É fazer cessar o maná fundamental à vida intelectual. É vitimar uma nação ainda em formação mesmo depois de séculos de existência.