Infância I,II,III..... (crônica)

Admito que sou absolutamente nostálgico, vim ao mundo em 1963 numa fazenda chamada Quebra Pote distante a poucos quilômetros da cidadezinha de Igaraçu...pedacinho de terra desmembrado da emergente São Manuel.O dono dessa fazenda que tinha uns 400 alqueires ...em hectares seriam uns 800, terra roxa,super cultivável e rica se chamava, bem vou dizer apenas como era conhecido...Camarguinho, acho que era de Piracicaba...um senhor na época com uns 60 anos, chegou a construir um engenho para moer sua produção de cana de açúcar, mas dizem que sua obra não estava de acordo com as leis vigentes para produzir, as ruínas da usina estão lá, mergulhadas dentro de um lago...Então foi fechada, lacrada, impedida de fabricar.Ele tinha uma toyota tipo furgão, e vinha de piracicaba até aqui, e trazia um pão com ovo como almoço.........continua!

Até então por conta do café, existiam inúmeras fazendas produtoras desse grão precioso, minha família assim como tantas outras eram colonos, a mão de obra era abundante, porém na década de 60 houve aquela explosão...o êxodo rural,as famílias seduzidas por novas oportunidades nas cidades, e fomos para a capital, eu tinha uns 3 anos...

Um ano de infelicidade...meu pai ficou doente, morávamos numa pequena casa, pelas bandas de Jabaquara, e não deu certo...

Voltamos para Igaraçu, embarcamos na estação da luz, e fiz minha primeira viajem de trem...me lembro de ter saboreado biscoitos de polvilho, pois existia um serviço de buffet dentro dos vagões iguaria que continua fazendo parte do meu cardápio ...

Meu avô materno continuou morando naquela fazenda, e era desmedida a alegria quando meu pai aos domingos nos levava para visita-los.

O ponto onde a jardineira passava era nos altos da rua Joaquim Medeiros, era extasiante sentar naqueles bancos, abrir as janelas e sentir o vento afagando nossos rostos, e o barulho do motor...tudo parecia uma sinfonia.

Meu avô materno, filho de imigrantes italianos, tinha um acordeon de 120 baixos, acho que era Todeschini...vermelha, e sempre o via tocando nos finais de tarde, domingos, nas horas vagas.

Meu avô dizia que seu pai tinha vindo no mesmo vapor, navio que trouxe o então desconhecido chefe do clã dos Matarazzo...

A terra era barata na época, e aqui na região...um reduto de imigrantes italianos, toda família acabava por conseguir, comprar uma porção de terra, meu avô ainda em seus últimos anos guardava uma escritura das terras perdidas por ignorância e desentendimentos entre seu pai e um tio.Perderam tudo.

Meu avô se mudou juntamente com a família de seu único filho para uma fazenda mais distante chamada Nova Sorrento, uma homenagem a comuna italiana...obs. meu bisavô era oriundo de Milão.

Me lembro que minha avó se deslocava uns 200 metros até a nascente, mina d água com alguns baldes para abastecer a casa, encher os potes de barro onde retirávamos a água com uma concha para bebermos.

Quando não estava a lavar roupa numa prancha improvisada na mina, minha mãe diz que usavam um sabão de soda

chamado ´negrito´..

Próximo ao local corriam as águas de um lindo ribeirão chamado Araquázinho e ali a gente brincava na corrente com o olhar atento de meu avô.

Mas, voltando a cidade, a infância já estava com dias contados.....continuo em outra ocasião....

Lucas Boavista
Enviado por Lucas Boavista em 01/07/2016
Reeditado em 04/07/2016
Código do texto: T5684248
Classificação de conteúdo: seguro