NO MATO SEM CACHORRO

Dia desses fui levar meu amigo ao veterinário numa visita de rotina. Apenas eu, ele e minha coragem, ou minha burrice, sei lá.
Não percebi que meu buldogue cresceu, pesa 40 kg, tem a força de um búfalo e a fúria de um leão quando se vê incomodado. Fora isso, esqueci também que não tenho mais 20 anos e a agilidade de antes.
   
Chegando à clínica, assim que descemos do carro, ele avistou de longe, um coleguinha que o saudou não muito amigavelmente. Não sei o que o coleguinha disse, mas Ted partiu pra cima dele me arrastando pela guia que, determinada, não soltei.
Tentei segurar, como pude, meu amigo buldogue, enquanto via meu dedinho mindinho sendo rasgado preso acidentalmente à parte de metal da guia que Ted raivosamente puxava.
 
Em meio à correria, aos latidos dos demais coleguinhas e aos gritos dos pais dos coleguinhas, na sala de espera da clínica, cheguei meio que à força, no balcão de atendimento. Na clínica Ted já é conhecido por ‘tocar o terror’ quando chega.
 
A dor era insuportável e o sangue logo começou a jorrar sujando minha roupa e tingindo de vermelho a cerâmica branca do piso.
Fiquei sem saber se chorava, se brigava com Ted, se fingia que não foi nada, que não estava doendo, se enfiava minha cara num buraco...  
Todo mundo me olhando. Que mico, pensei, ou melhor, que king kong! Senti-me num mato sem cachorro embora o Ted estivesse ali...
Sentada tentei pressionar o dedo sobre o corpo para estancar o sangue que jorrava sem parar, e com a outra mão segurava a guia.
 
Logo veio um veterinário me atender. A mim e não ao Ted. Por um momento fiquei confusa sem saber quem era o animal, pois eu estava me sentindo uma anta. O corte foi significativo. Profundo! Me rendeu uma sutura e numa clínica veterinária!
Depois de medicada, voltei pra casa sem graça e sem norte. Ted voltou sem sua consulta de rotina.  
 
Ainda estou de molho com um curativo no dedo limitando minhas tarefas e meus movimentos. Ted segue tranquilo, dócil, brincalhão e com cara de paisagem, alheio ao que fez.
Afinal, criança é sempre criança na sua inocência.

 
 

Um comentário/interação carinhoso do poeta Paulo Miranda.

Apesar de todo esse susto
nada me comede ou impede
sem me importar co'o custo
inda hei de visitar Ted...



Ted França, membro da família há 10 meses.
Suzana França
Enviado por Suzana França em 29/06/2016
Reeditado em 03/07/2016
Código do texto: T5681819
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