CUIDADOS PALIATIVOS

CUIDADOS PALIATIVOS

“Bora ser feliz” foi o que dizia Rosa em seu leito. O Câncer lhe consumia o corpo e lhe enaltecia a alma. O nome realmente era Rosa, o hospital fica em São Paulo, o desencarne foi em 2014. A reportagem foi feita por um canal aberto de televisão e o repórter já é consagrado pela sua competência. A médica responsável pelos Cuidados Paliativos sempre repetia que o objetivo era dar vida aos dias e não dias à vida da paciente. Rosa era bem humorada. Estava muito debilitada pelo avanço da doença. Precisava de ajuda para mover-se na cama. A equipe a acompanhava dia e noite com a mesma atenção e carinho. Havia diálogos entre Rosa e a equipe. Precisava de conforto e tinha. Contou para o marido, que casou com ele pra sair de casa, ela era muito nova. Pediu perdão ao marido. Disse que se tivesse que voltar atrás no tempo, faria tudo diferente. A primeira coisa seria tirar os filhos da creche para viver mais tempo com eles. Não trabalharia tanto, pois a maior parte do tanto que trabalhou não valeu a pena. Riria mais, perdoaria mais, abraçaria mais e amaria mais. Disse que a vida é muito curta para que as pessoas fiquem com “coisinhas”. Rosa era jovem, tinha um pouco mais de trinta anos. E era bonita. Tinha um casal de adolescentes e nos últimos dias não cansou de dizer todo o tempo que amava os filhos, e que eles estão aqui pra serem felizes. Repetia sempre: “Bora ser Feliz, pois a gente tá nesta vida pra isto.” Rosa emocionou a todos, repórter e a equipe do hospital. E também a todos nós. Foi uma lição de vida na sua hora derradeira. Seu marido a perdoou, seus filhos a perdoaram, sua família a perdoou e os amigos a perdoaram também, muito embora não houvesse muito a ser perdoado. Rosa quis assim. Fez as pazes com a vida quando a sua finitude estava cada vez mais perto. Aconselhou todos a fazer o bem sem olhar a quem. Seu desejo era comer uma feijoada, o repórter com a anuência da equipe trouxe a iguaria. Rosa, enquanto saboreava o prato, disse que a felicidade é feita de pequenas coisas. Faleceu no décimo dia de reportagem. Antes de ir fez um sinal de OK e abriu um baita sorriso. Feneceu serena...

Sem os Cuidados Paliativos como seria a vida de Rosa nos seus últimos dias? A médica afirmou que estes últimos momentos podem ser os melhores, o de agradecer, perdoar, agregar e sonhar até o último minuto.

Bora ser feliz então!

Sérgio Clos

28/09/2015