Regências

Desde os primórdios, os homens elegem líderes para guiá-los. Mais do que uma forma de organização social, deposita sobre certos indivíduos a responsabilidade de administrarem a si mesmos.

Por séculos, a Monarquia concedeu um privilégio hereditário e inquestionável ao Suserano. Antes de ser visto como um ditador, era um "protetor do reino". Não importava quantas atrocidades cometesse, os homens precisavam de um líder, alguém a seguir de olhos fechados e que desse sentido às suas frágeis vidas.

O tempo passou, as Monarquias ruíram (a maioria delas). Mais do que fé e direitos, a razão exigiu "deveres". Mas este novo momento, não extinguiu a necessidade de líderes, que lhe dissessem o que fazer e que "cuidassem" de seus passos. No entanto, descentralizamos a regência de um único indivíduo, que tomava todos por iguais, para o surgimento de vários líderes, que pudessem atender a tantas diferenças. Horizontalizamos e setorizamos a liderança, antes vertical e unificada.

Hoje temos líderes na Política, nas Religiões, em uma banda musical, no futebol às redes sociais. Nunca esteve tão em voga a expressão "seguidores". A realeza evaporou, mas o séquito segue.

Quanto menor a capacidade de uma pessoa se auto-liderar, seguirá com mais avidez aquele que considerar apto a tomar as suas rédeas. Nele depositará suas escolhas, suas certezas, suas verdades, tirando de si a responsabilidade de fazê-lo, desde que cumpra com os mínimos deveres a eles atribuídos.

E como Maquiavel alertou sobre príncipes e regentes..."Os fins justificam os meios" ou de outra forma poderíamos pensar..."a causa será sempre maior do que os fatos"...Seja para perdoar ou não enxergar "pequenos/grandes" equívocos como: roubar na política, desde que não abandone o propósito maior de um partido; as piores declarações de um artista, desde que continue a deslumbrar com sua arte; o uso indevido da fé como instrumento de manipulação, desde que siga pregando ideais superiores; qualquer benefício inapropriado desde que beneficie o time que torce;

O extremo de uma confiança cega será o fanatismo, no qual, o indivíduo se anulará para ser liderado a qualquer custo. Neste caso, não aceitará qualquer contrariedade a sua causa, pois nela reside a própria existência.

Mas deixando extremos de lado e retomando a regência de nós mesmos, não somos o que ou quem acreditamos, mas o que acreditamos faz parte de quem estamos! Estar é uma condição temporária, corroborada por um conjunto de informações que nos cerca em um instante. Nada na vida é permanente e nós também não somos. Mudar faz parte da natureza. Apenas a essência e o ser são permanentes. E o ser passa por várias estadias durante sua existência.

Liderar a si mesmo, não é se apegar a posturas e, orgulhosamente, não querer mudá-las. Liderar a si mesmo é a capacidade de discernir sobre tudo que lhe é apresentado, sem distinções; Ser responsável pelos deveres e direitos que lhe cabe, sejam méritos ou equívocos, sem que alguém precise lhe apontar e antes de tudo, se conhecer. Lidere seus próprios passos.

Conheça todo mundo que vive, viva todo mundo que conhece.

Fernando Paz
Enviado por Fernando Paz em 13/06/2016
Código do texto: T5665986
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