Monsenhor José Philippe da Silveira (1932)
 
Luiz Carlos Pais
 
 
Faltava um mês para iniciar a Revolução Constitucionalista de 1932. Os moradores de São Sebastião do Paraíso, no sudoeste mineiro, mobilizaram-se para organizar uma grande festa para comemorar as bodas de prata de ordenação sacerdotal do pároco monsenhor José Philippe da Silveira. Toda a programação transcorreu-se no dia 9 de junho de 1932. Nesse ano, o pároco estava também completando 18º ano no exercício do vicariato local e ainda permaneceria na mesma função outros sete anos, totalizando 25 anos de vida religiosa dedicada à sociedade católica paraisense. Sua memória ficou na história da cidade, pela sua liderança na realização de importantes serviços sociais para a comunidade local, além do exercício de líder religioso.

Natural de Pouso Alegre, Sul de Minas, José Philippe da Silveira nasceu no dia  23 de agosto de 1884. Fez o curso secundário no Ginásio de Pouso Alegre, onde recebeu o diploma de Bacharel em Ciências e Letras. Logo em seguida, realizou a formação teológica no Seminário de São José da mesma cidade, em uma de suas primeiras turmas desse centro de formação de sacerdotes católicos. Ordenado em 9 de julho de 1909, foi nomeado cônego catedrático na própria diocese de Pouso Alegre, devido a sua ampla cultura teológica e filosófica. Por certo tempo, atuou como auxiliar direto do bispo diocesano, Dom João Baptista Nery, inclusive como professor de matérias da formação sacerdotal.

Foi nomeado pároco de Guaranésia, onde permaneceu por três anos. Nessa cidade do sudoeste mineiro, lançou a ideia de fundar ali um estabelecimento de ensino para meninas com direção das Irmãs Doroteias que, na época, mantinham um colégio em Pouso Alegre. Esse projeto não chegou a concretizar-se naquela cidade devido a sua transferência para a paróquia de Paraíso. Monsenhor Philippe tomou posse na paróquia de São Sebastião do Paraíso, no dia 26 de julho de 1914 e permaneceu no exercício do sacerdócio até seu falecimento, ocorrido em 25 de maio de 1939, vítima de infarto cardíaco, quando tinha 56 anos. Durante os 25 anos que serviu à sociedade paraisense, suas ações destacaram-se, muito além das funções eclesiásticas, pela promoção de obras sociais.

Logo no início, empenhou-se na tarefa de levantar fundos para a construção da Santa Casa. Com o apoio dos fazendeiros mais abastados do município, o vigário fundou escolas paroquiais para ministrar o catecismo e os princípios da educação integral. Foi de fundamental importância sua atuação na obtenção das doações para a aquisição do terreno e construção do prédio do Colégio Paula Frassinetti. Instituição que, em 1932, ministrava um dos melhores cursos normais do Estado de Minas Gerais. Empreendeu reformas na parte interna da Igreja Matriz, tanto na composição arquitetônica do frontispício quanto nas laterais.

Ainda em 1932, estava empenhado fazer avançar a construção da matriz local com uma torre de 40 metros, com resistência estrutural para suportar três grandes sinos de conjunto harmônico. Também se insere na lista de obras realizadas pelo Monsenhor Philippe a construção do Instituto de Jesus Crucificado, para abrigar órfãs e meninas abandonadas. Foi divulgado no início da década de 1930, que o pároco tinha organizado um asilo para abrigar “morféticos”, termo esse usado na época para se referir a pessoas acometidas de hanseníase. Esse asilo era constituído por uma sequência de pequenas casas habitadas pelas pessoas doentes e formava uma pequena vila localizada nos fundos do terreno da Santa Casa.

Em 27 de Outubro de 1929, o pároco estava empenhado na tarefa de iniciar a construção do mencionado prédio no qual funcionaria o Instituto Jesus Crucificado, orçado em 200 contos de réis. Na solenidade de lançamento da pedra fundamental, compareceu o bispo diocesano, Dom Ranulpho da Silva Farias. O projeto arquitetônico foi elaborado em estilo colonial e previa capacidade para abrigar 100 crianças. Nos anos seguintes, a instituição recebeu a denominação de Instituto Monsenhor Philippe, homenagem prestada ao saudoso pároco. O comendador João Alves de Figueiredo Junior doou 50 contos de réis para auxiliar a construção do instituto e o coronel José Honório Vieira, doou 20 contos de réis. A essas doações mais expressivas somavam-se a outras mais modestas. Mesmo assim, naquele momento, estava ainda faltando pouco mais de 100 contos de réis para completar o orçamento de conclusão da importante obra social. Conforme previsto pelo Monsenhor Philippe, a direção do Instituto foi entregue às irmãs missionárias de Jesus Crucificado, de Campinas, SP, as quais também auxiliaram o pároco em outras obras de assistência social.