Província Minas do Sul (1874)
 
Luiz Carlos Pais

 
O tema do separatismo regional e das subdivisões administrativas internas ao território nacional sempre foram tratados com certa reserva. Ficou no plano quase literário a ideia de levantar bandeira separatista no atual Sudoeste de Minas. Porém, até no início da década de 1960, a imprensa mineira noticiou que em São Sebastião do Paraíso estaria ocorrendo um “movimento”, pedindo anexação de vários municípios mineiros ao Estado de São Paulo. As raízes mais distantes desse sentimento surgiram no período colonial, quando terras delimitadas pelo Rio Grande e Rio Sapucaí pertenceram a São Paulo.
  
Em 1764, essas terras foram ocupadas pelo governador de Minas, Luis Diogo Lobo da Silva. A polêmica surgiu porque, uma década antes, um capitão paulista, vindo de Jundiaí, havia “tomado posse” dos descobertos de ouro localizados nos sertões compreendidos entre o Rio São João e próximo à foz do Rio Grande. A estratégia do governador mineiro foi então ocupar a área, facilitando a inserção de famílias portuguesas que vieram nas Ilhas do Açores, e compraram terras na região onde se localiza o atual sudoeste mineiro.
 
O Almanach Sul Mineiro foi um periódico editado, no final do século XIX, pelo escritor, jornalista político Bernardo Saturnino da Veiga, um dos entusiastas da causa separatista da região sul da então Província de Minas, defendendo a criação de uma nova unidade do Império. Membro de uma grande família de comerciantes, políticos e jornalistas de Campanha, berço do Sul de Minas, esse político ainda defendia a volta ao regime monárquico. Logo na primeira página do periódico o editor estampava sua bandeira separatista, em favor da criação da Província Minas do Sul. Por mais de uma vez a discussão chegou ao Senado do Império, mas não prosperou. Um projeto chegou a ser elaborado com todos os detalhes, mas recebeu apoio de poucos senadores.
 
Uma das condições para justificar a criação de uma nova província, além dos acordos políticos, estava a base econômica da região que era a pecuária. Três ou quatro décadas depois, começaria o ciclo da cafeicultura. Mas, no início da década de 1870, a produção de café ainda era incipiente nessa região. A expansão mais expressiva veio com o final da escravidão e com a vinda dos colonos europeus. A preciosa rubiácea era plantada quase somente para consumo local com exceção das cidades de Alfenas, Pouso Alegre e São Sebastião do Paraíso, onde a planta crescia com vigor admirável.
 
Para defender a criação da Província Minas do Sul, o Almanach publicou, em edição de 1874, que essa parte de Minas exportava para São Paulo cerca de 70 mil cabeças de gado por ano. Era o momento áureo do ciclo do gado. A comarca de Jacuí, existente em 1874, envolvia os municípios de São Sebastião do Paraíso, com cinco freguesias e de Passos, com seis freguesias. O tempo passou e levou o sonho de criar a Província Minas do Sul ou ainda existe algum germe nesse sentido? Viva Minas unida que é uma só e várias ao mesmo tempo!