Nós, evangélicos, somos intolerantes

Certa vez, em Xinguara, já faz alguns anos, quando eu ainda nem era evangélico protestante, conversava com um colega sobre religião. Aliás, nem era bem sobre religião: a conversa girava em torno de um debate político que acontecera na tevê, na noite anterior, sendo que um dos debatedores era o então deputado federal por Pernambuco Roberto Freire, do Partido Comunista Brasileiro (PCB). E, quando, a certa altura da conversa, eu o elogiei pelo fato de, mesmo ele sendo ateu, ser tolerante com a crença dos demais, o irmãozinho meu interlocutor, que era e ainda é membro da Igreja Evangélica Assembleia de Deus, me repreendeu asperamente.

Em seguida, contra a minha vontade, entabulamos um diálogo insípido, extremamente desagradável, que me deixou deveras aborrecido, pois sempre detestei pessoas intolerantes e preconceituosas, que se julgam as únicas detentoras da verdade absoluta, notadamente em matéria de fé. Eu ainda não era evangélico de direito, mas já o era de fato: cria na Bíblia Sagrada, como a Palavra de Deus, e em Jesus Cristo, como o Filho de Deus, meu Senhor e Salvador. Faltava somente filiar-me a uma denominação evangélico-protestante, como fiz algum tempo depois, entrando para a Igreja Presbiteriana do Brasil, a qual, anos depois, praticamente expulsar-me-ia por ser maçom. Ironia do destino. Há coisas que se não explicam, ou, pelo contrário, são explicadas até demasiadamente. Sei lá!

O problema do meu interlocutor naquela conversa é que ele era muito intolerante com as pessoas não crentes e com os crentes de outras denominações que não a denominação dele, como, aliás, infelizmente são quase todos os cristãos evangélicos que conheço. Ele simplesmente pensava que, por termos a convicção pela fé de que somente Jesus Cristo salva, temos de sair impondo a nossa verdade às demais pessoas, sem nos preocuparmos com a fé que elas professam.

Foi demais. Muito chato e, acima de tudo, uma conversa infrutífera, amarga e sem graça. Anos e anos se passaram, tornei-me evangélico e tudo que sempre desejei foi simplesmente ser crente: nenhum cargo, nenhuma posição de realce, nada mais, pois nunca desejei cargos de liderança por onde quer que passei. Ledo engano, esperança debalde, malograda: isso me seria negado. E foi. Oficialmente, não, mas, na prática, me expulsaram da minha igreja pelo fato de eu ser maçom. Intolerância é coisa do diabo, agora, mais do que nunca, o vejo. E sofro. Sim, eu o sofro há muito. Deus saberá até quando. Uma convicção, contudo, eu tenho: a Maçonaria é inocente nessa história.

Em relação ao dito episódio ora relembrado, faço minhas, com muita propriedade, estas palavras de Mauricio Zágari, pinçadas de A Pecaminosa Intolerância dos Evangélicos: “[...] naquele dia, eu tive de admitir algo que é muito doloroso para um cristão: nós, evangélicos, somos intolerantes. Aliás, muito intolerantes.” Não somente naquele dia, hoje ainda mais o admito. E sofro. Nós, evangélicos, somos intolerantes. Eu, contudo, acrescento que intolerância é coisa do diabo e seus sequazes. Quem quiser que se peje.

É verdade. Desde criança, ouvia meu pai dizer que até o diabo tem os dele. É duro, mas penso que é verdade: o diabo tem os seus sequazes. Consola-me, contudo, saber disto: “O Senhor conhece os que lhe pertencem” (2 Tm 2.19). Isso me basta. O nosso tempo não é o tempo de Deus. Isso também é bíblico.