Lúcia Borges

“Não deixava a cuia por uma concha de marfim, para beber água cristalina”. Lúcia Borges.

Os dias plácidos surgiram em sortilégios, um após o outro, exuberantes e diáfanos, inolvidáveis. E de uma alegria desmesurada. Não precisava sair de casa, enfrentar o som e a fúria das metrópoles. Descobriu como evitar companhias desagradáveis e encontrar gente de sentimentos diversificados, onde a hipocrisia não se manifesta. Algumas falando de sofrimentos, outras exaltando a vida. Em comum, a munificência. Essa diversidade com a qual mantinha uma relação transversal o fascinava. Elas tomaram conta do seu mundo, que a cada dia se expandia. Estava convicto que a vida é efêmera, por isso selecionava. Só interagia com pessoa encantadas. No mundo virtual e no real. Sem os grilhões possessivos; sem fogueira de vaidades.
   O acaso não o conduziu a Lúcia Borges. Foi a sua rigorosa seleção e a empatia estabelecida. O mundo virtual não difere muito do real. É necessário afinidade. O diálogo profícuo entre eles não deixava dúvidas: seriam amigos. Afinidade não significa, necessariamente convergência de ideias, mas respeito às diferenças. Lúcia é católica, vai à missa, comunga, mas não compactua com a inquisição. Lúcia é libertária. Ficar de joelhos, para ela, não é submissão. É humildade sem humilhação. Lúcia é bonita, extrovertida, fala e escreve o que pensa. Não está preocupada em entender, pois, como Clarice Lispector, “viver ultrapassa todo o entendimento”. Pacientemente poda os musgos das paredes de seu poço, como afirma Jaque, a amiga, e ela retribui sob o “signo renovador dos neurônios esquecidos, se ajoelha, para que os filhos fiquem de pé”. Por causa dessa beleza demasiadamente humana,“redemoinhos de nuvens depositam cartas em seu jardim”*, onde gerânios, dálias, azaléias e rosas juncam o chão de pétalas perfumadas E os beija-flores e abelhas colhem o néctar, alimento dos deuses e deusas.
  Ele, que não se ocupa com os mistérios divinos, no primeiro momento perde o rumo. Concentra-se. Percebe, então, que a religião não é uma corrente com barras de ferros presas aos pés. Aceita Lúcia, abraça Lúcia, envia-lhe mensagens virtuais de apreço, que ela retribui com a rapidez da luz. Mas sabe, também, que poderá ouvir dela um CHEGA?!.


* Jaqueline Britto.

Prosa poética em homenagem a Lúcia Borges, amiga e parceira de letras. E mecenas da cultura popular. Esta crônica integra o meu livro Crônica do Amor Virtual e Outros Encontros - Editora Protexto - 2012 - Aos interessados acessem o site da editora ou a Estante Virtual.

Encontra-se à disposição meu último lançamento: A Moça do Violoncelo - Estrelas - Dois livros em um. Para saber mais, façam contato.