Trocar cartas

Flagrou-se ansioso por respostas, completamente impaciente. A sensação era muitíssimo estranha. Poucas vezes na vida fora capaz de manter-se em tamanho desequilíbrio: as mãos tremiam, o olhar estava inquieto, o coração batia arrítmico e o cérebro fazia milhões de cálculos probabilísticos.

Em menos de cinco minutos, já era a décima segunda vez que o rapaz conferia o celular. Nada de novo nesse pequeno período de tempo. O relógio continuava ali, o despertador estava configurado, a mensagem que exibe a operadora permanecia exatamente no mesmo lugar e o plano de fundo ainda era cinza. Não que ele tenha notado alguma dessas coisas nas vezes em que fez acender e apagar as luzes do pequeno aparelho branco. Simplesmente não era isso que ele esperava enxergar.

Clica. Acende. Clica. Apaga.

Notoriamente desorientado, o moço sente-se obrigado a tentar, e apenas tentar, acalmar-se. Larga o celular sobre a mesa e como primeiro ímpeto, levanta-se, anda até a sacada e respira ar puro. Puro como força de expressão já que, na verdade, o ar da sacada era o mesmo que preenchia toda a sala. Distante, ouve um quase inaudível som.

Parece inacreditável que alguém saiba exatamente qual aplicativo fez o celular tremer apenas pelo tipo e pela duração da vibração. Bom, foi o caso. O rapaz teve certeza da chegada da tão esperada resposta. Ele queria correr, correr loucamente, mas se conteve. Em curtos passos, um após o outro, andou em direção à pequena luz que agora brilhava como uma linda estrela num pequeno apetrecho eletrônico.

Clica. Acende. Clica. Apaga.

Era a resposta, era justamente aquilo que ele esperava ver. As mãos pararam de tremer, o coração bateu em ritmo de balé clássico e o cérebro, que antes fazia milhões de contas, passou a imaginar, imaginar as infinitas e belas possibilidades. Parou, pegou o aparelho e pôs na mochila.

Não era hora de ler. Era hora de esperar e sentir a felicidade de ter sido respondido. Em um mundo de instantaneidade, o moço da história aprendeu a gostar de trocar cartas.