Caio

Quis de dez chances, a única,

A que trouxesse de volta,

Do passado obsoleto...

O querer estar perto -

Foi de longe que me conformei.

Na solidez guardada em mim,

O pranto - vez em quando - inunda meus olhos.

Guardada por anos na gaveta.

Aquela gaveta;

Suas palavras, desertas, em vão.

Sequei-me aparentemente.

Aparentemente.

Frágil - forte - eis o mortal lutando contra a imortalidade.

Eu lhe vejo pela janela,

Mas por sua janela você não me vê,

Porque não sou eu, o seu.

Mesmo ainda, quero estar por perto,

Em outra vida...

E de mim, que nasça flores,

Em um jardim para sua presença.

Para sua velhice,

Na casa que já não é nossa -

Nunca foi.

Desamarro os cadarços e descalço,

Ando em sua direção,

Pés despidos,

Cacos de vidro,

É onde me fere a dor,

Só percebendo o sangue é que percebi que estou vivo - morto.

Depois de você,

O trem passa, mas não vejo,

O dia amanhece e nem se quer sei o que é sono,

Exijo de mim um banho,

A canção não se dança,

O desespero se acalma,

O rabisco se desintegra em folheto amiúde. Me ocupa o ar, poluindo-me de vida...

O espaço entre um passo e outro - o vazio...

O vazio que requer espaço,

O vazio por querer explicação,

O vazio em crise existencial.

Diante de nós, o tudo, o nada,

No cara ou coroa,

No espaço...

Na aposta por quem dispensa felicidade,

Por uma felicidade de quem conheceu a dias,

Cercado por um passado inexistente de anos e anos atrás.

Marcos Pagu
Enviado por Marcos Pagu em 13/04/2016
Reeditado em 13/04/2016
Código do texto: T5603823
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