EX MACHINA


 



 

10/04/2016 00h34
EX MACHINA

 




Penso seriamente em sair da letargia que me invade nesse sábado. Nem falo em adotar a alegria para rimar com letargia e melhorar o dia. Penso, talvez nem pense, em algo que tenha alguma importância, relevância e um imediato resultado. É uma coisa só de fazer, pragmática (infelizmente no sentido filosófico da palavra), que não exige muito pensar. Afinal não pensar está na moda, e eu não quero ser um vintage intelectual. Não sou um empreendedor corporativo que dá importância ao planejamento estratégico e à logística a longo prazo. Aliás eu acho o empreendedorismo uma das coisas mais obtusas e abstrusas da nossa triste época de pensamento rasteiro. Bem, de que mesmo eu estava falando? Ah, sim! Eu estava dizendo que ia sair de meu estado de letargia e estupor. Para tanto eu vou... varrer o quintal, enquanto penso na morte da bezerra.
 




Os estudiosos da paleantologia acreditam que o aparecimento do ser humano como espécie está ligado ao desenvolvimento da faculdade de pensar, por isso seríamos o homo sapiens sapiens. Claro os dois sapie indicam a espécie e a subespécie. Mas poderíamos viajar e divagar, pensando ser o ser humanoo um ser que sabe que sabe. Sabe porque pensa. Para Descartes, e isso é quase um lugar comum, acreditava que o pensamento é a única comprovação clara e distinta da existência, que é doutrina do cogito: tudo que existe pensa/ eu penso/ logo eu existo. Engels relaciona o existir do homem com o uso da mão, a coisa do polegar opositor que a gente usa como pinça. E também como pensa. Usar a mão exigiu o pensamento, e mais, criou disponibilidade de tempo para pensar. Já Huizinga, em o Homo ludus acha que mais que um animal pensante o ser humano é um ser brincante. Mas o ser humano brinca porque pensa, o jogo do pensar é símile do jogo da brincadeira. Paro por aqui. Por isso muito me assusta uma série de textos que tenho lido aqui atacando o ato de pensar como reflexão. Uma verdadeira guerra ao intelectualismo. Vejo pessoas defendendo a ideia de que só basta fazer, que pensar é uma frescura de intelectual. E penso aqui no nosso momento politico. Lembro-me da Hannah Arendt quando ela ficou indignada com o burocratismo intelectual dos nazistas, percebido no caso do julgamento de Eichmann. Pessoas que só alegavam somente cumprir ordens, mas que com isso permitiam que o pensamento autoritário os subjuguesse. Mas tem alguém pensando... E pensando muito mal. É o titerismo. Como diziam Horkheimmer e Adorno, isso é uma "eclipse da razão". E para mim o pior autoritarismo é aquele que me proibe de pensar, ou impõe as condições para se pensar, ou, o que é mais perigoso, o que devo pensar. Nesse último caso, isso acontece muito quando ocorre aquilo que Foucault chamou de interdição. Ou seja, quando alguém emite um discurso que nada diz, mas desautoriza o outro a dizer. Então pensem, digam o que pensam, mas não digam o que o outro deve pensar. O outro sabe mais sobre o que ele pensa do que você. Façamos tudo para evitar o fascismo.

 

 

Ex Machina. Somos caixas cinzas, mas por dentro somos explosivos e coloridos. E somos a nossa própria Pandora. Viva Prometeus! Viva Quetzalcoatl!

 

 

Goiânia, 09 de abril de 2012.

(Escrevi esse texto ontem, de forma manuscrita. Mas só agora o publico. Acontece que gastei mais que o esparado varrendo o quintal. Tinha muita bosta de cachorro...)

 

 

 


DISPONÍVEL: http://www.joseeustaquioribeiro.prosaeverso.net/blog.php?idb=47173