DIÁRIO [31/03/2016]

 

 


31/03/2016 22h22
31 DE MARÇO



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É mentira! O governo de João Goulart não foi derrubado em 31 de março, foi na verdade no dia primeiro de abril. Assim, o dia da mentira é hoje, só que a 52 anos atrás. E pior que a mentira é sua repetição desmemoriada e inconsequente. Tem muita gente querendo repetir o dia de hoje, e para tanto a mentira é sua principal arma. E já dizia o cara que esse povo odeia (e agora há um ódio incompreensível ao pensamento livre e à reflexão), a história acontece a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa (não citarei quem, pois muitos bastam ouvir certos nomes para desqualificar quem os emite. É a nossa triste época!). Hayden White em Metahistória viu nesse cidadão nativo do palatinado o topoi da comédia. Mas para o homem de Trier farsa era mais perniciosa que a tragédia. Ainda mais nefasta: carece de autenticidade. Estão armando um teatro burlesco, cuja intenção como disse para outro contexto Erwin Auerbach, em Mímesis, é criar a impressão de realidade. E esse é o grande perigo da mentira: sua "eficácia simbólica" (penso aqui em Marcel Mauss), que é a migração do símbolo para a realidade. O golpe se faz com mentira de legitimidade e legalidade, e a gente já sabe as consequências disso, independente do militarismo ou não. Acusam que a esquerda tem mania de ficar lembrando da história. Esquecer a verdade é a maior obra da mentira, essa é inclusive a sua função. Independente se é esquerda ou direita. Negligenciar a inteligência é incompetência e confissão da mais pura estultície. A mentira e sua efetivação não é para ser esquecida, ela tem de ser lembrada para que seja superada. E superação não ocorre com repetição ou reação.

 


 
 
Goiânia, 31 de março de 2016.