Dentro do ônibus observando a paisagem em movimento do lado de fora...

Dentro do ônibus observando a paisagem em movimento do lado de fora...

Nuvens pássaros nuvens, mato mato mato, barro barrancos barro, casas casas casas, estrada estrada estrada...

Seis infinitas horas de estrada comendo aos poucos o pneu desse automóvel confortável, mas desconfortável. O cara do outro lado da fileira de poltronas parece estar curioso no que estou pensando (escrevendo). Enquanto escrevo pensando que ele esta pensando nisso agora mesmo.

Mais duas ou três horas de viagem ainda. Tenho um ultimo pedaço de pão pra quando a fome apertar de vez, meu estomago se contrair de dor, e não der mais para resistir... Depois de comê-lo e logo mais a sensação de fome voltar, será a vez dos roedores dentro da minha barriga comerem minhas entranhas.

Resolução: Estou decidido, vou viver pelo resto da mina vida e depois morrer.

Mais a frente um casal com a filhinha loirinha bem loirinha, brigam calmamente sorrindo cinicamente um para o outro o tempo todo. Ele é grandalhão, de porte atlético, ela pequena, corpo mirrado, olhos azuis claros. Tem cara de quem sente muito ciúmes dele.

Será que as pessoas enterram os mortos em cemitérios esperando inconscientemente que eles ressuscitem? Eu sinceramente não entendo esse culto a um corpo putrefato, e que com o tempo, só ossos. É preciso um símbolo concreto para sentimentalizar o morto na memória?

Tiago Torress
Enviado por Tiago Torress em 30/03/2016
Código do texto: T5589823
Classificação de conteúdo: seguro