O bêbado chato

Faz é tempo que eu tinha que parar de beber. Mas eu nunca parei, digo que paro mas não paro. Sempre me dou mais uma chance de quem sabe da próxima vez ser um bêbado legal e tal, mas não, eu não sou um bêbado legal e tal, eu sou um bêbado chato, daqueles que, a cada gole, vão ficando cada vez mais e mais desagradáveis, agressivos, bem mala mesmo, sabe como é?

Isso talvez porque, se sóbrio eu já sou meio paranoico, todo complexado e cheio de neuras, bêbado então é um Deus nos acuda. Parece que o cérebro derrete, se dissolve com o álcool. Tipo, o doutor Hyde transformado no monstro após ter injetado o maldito liquido, saca. A verdade é que eu não sei lidar muito com gente, não tenho jogo de cintura como diz minha irmã, independente do meu estado, seja ele abstêmio ou alcoólico. E não me faça essa pergunta, sei lá eu porque diabos sou assim véio! Eu sempre fui assim. Vai ver eles tenham razão, talvez eu seja mesmo meio maluco! (Essas explicações por si só já são meio esquizofrênicas? ha-ha-ha).

Quem dera eu fosse um bêbado alegre como Modigliani (Pelo menos como foi mostrado no filme) Ou criativo como o maldito bukowiski, ou o maldito Henry miller... Mas não, eu sou apenas a porra de um bêbado chato e sem graça, bua, bua, bua. E pior que isso, a porra de um citador de nomes de autores! (Mas ainda bem que eu não sou a porra do citador de nomes de autores e resenhas de livros que nunca li! He he he he)

Outro dia, depois duas garrafas de vinho seco, algumas latas de cerveja, uma apresentação de dança contemporânea com o final do espetáculo decepcionante (O maldito politicamente correto, a caretice, a chatice, o policiamento, a censura, a cretinice, ah!) um salgado oleoso e muito perambulação entre pessoas fechadas em si mesmas e em seus grupinhos... cheguei em casa lá pelas onze e pouco da noite doido da vida tendo de ser controlado para não quebrar tudo em volta, incluindo a mim mesmo.

Não não não. Não foi bem por esse o motivo que você deve estar pensando agora, foi também, mas não só porque eu bebi e perdi o controle. A porra do controle emocional, como dizem. Outro dia aconteceu parecido e eu não tinha bebido uma única gota. Perdi o controle e quis quebrar tudo assistindo um documentário sobre a cássia Eller. Acredita? Deu um desespero na hora, uma angustia, um vazio. Sei lá. Aquela mulher cheia de vida, “livre”, espirituosa. Rock in Rio... Smell like teen spirit... Tantas coisas legais aconteceram com ela... E eu aqui preso nessa chatice. A mana me conteve nesse dia também hahaha.

“Eu desisto da humanidade, nunca mais vou sair de casa”

Quem nunca disse essa bendita frase pelo menos uma vez na vida, não é mesmo.

Mas para variar, passados duas semanas lá estava eu de novo a procura de diversão, distração – de “vida”. E é claro, para variar também, foi mais uma noite igual a todas as outras noites chatas. Nada que surpreenda, nada que fuja do esperado, que saia do script, sucedeu. Não havia ninguém livre, alegre, espirituoso, desinibido naquele bosta de salão. Havia apenas os mesmos “senhores braços cruzados, pose de superioridade e mais sei lá o que eu”. Enfadonhos só de se olhar, e entediantes de sempre. Os que nunca se soltam. Os que não conseguem perceber o quanto é bom poder se expressar da maneira que bem quiser e foda-se. Poder, ou pelo menos tentar ser sincero em tudo que faz e diz. Sem medo de errar. “Que precisam encontrar um lugar do caralho” *. Sem medo de ser julgado e condenado a forca pelos ideais daqueles que não dão chances e espaço a diversidade de opiniões, de escolhas, de visões, mesmo que supostamente, no fim das contas, de uma forma ou outra, todas almejam basicamente as mesmas coisas? Os meios alteram os fins? Pois então, porque diabos eu tenho que ter os mesmos gostos que você, ir pelos mesmos caminhos? Porque diabos os seus gostos são melhores do que os meus? Porque o meu jeito de agir é o errado e o seu é o certo? Quem foi que te fez o senhor supremo da razão universal?

A sua falta de respeito com o alheio, esses seus “ideais e convicções” caro Stalin? Ou seria... Caro Hitler? Mussolini? Nicolás Maduro? Líder supremo Kim Jong-un? Como é mesmo que você se chama? ... Enfim, esse seu jeitinho maroto de ditar aos outros “o que é certo e o errado” “correto ou incorreto” não estão com nada cara. Seria mais legal se você mudasse toda essa sua convicção amarga, essa sua mania de intimidar, de policiar e censurar as pessoas, por uma convicção no mínimo mais alegre e democrática. Que achas?

*Um lugar do caralho. Júpiter maçã.

Tiago Torress
Enviado por Tiago Torress em 29/03/2016
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