DIÁRIO [22/03/2016]


 
 
22/03/2016 22h25
DOXAS 





 
Tenho um plano de saúde do IPASGO, o instituto de saúde dos funcionários públicos do Estado de Goiás, em decorrência de um convênio que esse mesmo mantém com a Universidade Federal de Goiás. Pois é, hoje eu fui até o prédio do referido instituto ali na Av. 90 no Setor Pedro Ludovico, por motivo não exatamente ligado ao lugar: fui a um caixa eletrônico. Quando lá cheguei fui interpelado por um repórter de um jornal local, queria ele saber da minha opinião a respeito do reajuste de 10% na alíquota anunciado pelo governo do Estado. Topei a entrevista, apesar de nada saber do assunto e do referido reajuste. Topei porque sou péssimo em dizer não. Mas agora encontro-me arrependido. Acontece que nada sei sobre o assunto. O repórter quis saber o que eu achava do reajuste! Bem, eu sou povo. Então fui povo. E como tal fui, e sou, contra qualquer aumento. Vi-me em uma saia-justa, como dizia o povo na roça coloquei o carro na frente dos bois. Eu estava ali dando opinião, mas não tinha opinião para dar. Poucos foram meus argumentos para sustentar essa opinião de ser contra. O que foi dito foi só instinto de minha extração social. Aleguei, e esse era o melhor dos meus argumentos, que o IPASGO é mantido pelas contribuições dos funcionário mas é gerido pelo governo, que com ele faz coisas similares com o que faz com o DETRAN: local de pedaladas. E ainda, o governo de Goiás se resusa a reajustar os salários dos funcionários para repor as perdas com a inflação, e mesmo assim aumenta a tarifa que incide sobre esses mesmos salários. Corroendo ainda mais seus proventos. Sem contar que faz alguns anos, devido um caos "administrativo" no Instituto, houve um aumento abusivo das tarifas, nem me lembro de quanto nem quando foi. Falei outras coisas que até podem ser pertinentes, mas estou com preguiça e vergonha de aqui registrar. Eu me oponho por demais a esse governo, por isso eu deveria ter evitado a emissão de opinião: ela é por demais contaminada por minha posição pessoal. Eu não tinha opinião a dar, nem tinha pensado sobre a questão, e o que era mais grave, eu não tinha informação. Opinião sem informação praticamente anula o valor da mesma. Caí na armadilha das atitudes que correm por aí: todo mundo dando opinião sem conhecimento de causa. Opinião não é saber, que é a distinção que os gregos faziam entre "doxas" e "epistemes". Mas acho que opinião possui ser valor e produz seus efeitos e defeitos: que é a possibilidade de verdade. Mas para isso precisa de fundamentos: informação. Emitir minha opinião nessas circunstâncias foi um erro. E me puno e flagelo por isso. Vou tomar mais cuidado, pois idiossincrasia precisa de limites. Agora, com licença que vou ali enterrar minha cabeça na areia.
 
Goiânia, 22 de março de 2016.